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Jogos Olímpicos de Paris 2024
Imane Khelif, a mulher que muitos colocaram em causa ser mulher, é agora uma mulher com medalha de ouro olímpica no boxe
A pugilista argelina que políticos, redes sociais e uma desacreditada entidade que costumava regular o boxe empurraram para uma polémica acerca do seu género é uma nova campeã olímpica de boxe. Imane Khelif venceu a final dos 66 quilos. Celebrou, chorou, sorriu. Em Paris, já com a medalha de ouro ao pescoço, acabou a responder aos ataques que sofreu fora do ringue: “Eu sou uma mulher forte.” (…)
https://tribuna.expresso.pt/…/2024-08-09-imane-khelif-a…
José Mário Costa
« (…) Bendita Imane Khelif que tem 25 anos e se expressa em árabe, talvez nem beliscando o inglês e por certo não pescando nada do português onde uma deputada, no meio das chamas incandescentes do seu meio predileto, lhe chamou “homem biológico” sem provas e um partido propôs um voto de condenação no Parlamento contra a “participação desigual de atletas femininos e masculinos nos Jogos Olímpicos” e se queixou da “normalização da violência” contra mulheres, porventura não reparando que essa sua ação, dirigida a mulher argelina que compete em Paris, capital de França, talvez promova precisamente aquilo contra o qual se querem erguer.
Cada soco da potente direita de Imane Khelif, todo o murro calculado, sem fúria ou intempestividade, que deu na final, não visara apenas o corpo de Liu Yang. “Sou uma mulher como qualquer outra mulher” prestou-se a comentar, já de ouro ao pescoço, depois das lágrimas derramadas a ouvir o hino do seu país e dos olhos encharcados com que se fixou na sua medalha, só dela, já ao peito, acariciando-a com uma mão. No cume da sua glória, quando finalmente podia pedir que “parem com o bullying” porque tem “efeitos massivos”, como pedira já antes, apenas sorriu, brincou com as outras medalhadas, abraçou-as, compartilhou a felicidade.
Sem mais murros para dar dentro de um ringue, Imane Khelif acabou a dizer, à BBC, o que nunca deveria ser suposto, necessário ou forçado em qualquer mulher, atleta ou não: “Pelos ataques que me fizeram, esta foi a minha maneira de reagir. O meu sucesso tem um sabor especial por causa desses ataques. Estou muito contente com a minha prestação.”
Ainda acrescentou: “Sou uma mulher forte.”
E o som a imperar no final, outra vez, finalmente. “Imane! Imane! Imane!” »
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