um poema de revolta contra os serviços universitários de coimbra

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Coimbra, agosto de 2022. Férias no Alojamento Estudantil no Polo III (Casa da medicina) da Universidade de Coimbra. Aqui escrevi mais que sensações…
Não sabia ao certo se postaria esse poema, deveras forte aos que já o ouviram de minha boca, ou se o deixava para publicação em livro, um fruto escondido, sobre a realidade de estudantes aqui em Coimbra, mas acredito que seja uma realidade mais ampla. Embora o tenha escrito em agosto de 2022, servirá para qualquer agosto neste terra.
Estas não são palavras só minhas, nem mesmo o pensamento e as sensações são únicos, houve estudantes que tiveram dias muito piores como por exemplo não ter onde dormir, não ter apoio social de fato.
9. Interminável agosto
Era verão de agosto na velha Coimbra,
A cidade se fecha de alegria em sombra,
Às vezes cheia, às vezes vazia, vazia
De tão cheia, tão cheia quando se esvazia.
Era como ter um buraco na foto, um eu que não diz nada
Parado, frente às colossais imagens como um tangente
Obtuso no espaço, uma nitidez estúpida de uma história
Infeliz e injusta, mais atroz ainda a toda gente lúcida.
A estação vaga na dor de um lugar triste,
Por todo lado risos e mais gente triste.
Ecos que fogem, gritos que sangram no tempo,
Azulejos que falam daquela história assentada,
Encoberta, escondida, ocultada… tanta gente queimada,
Tanto punimento; o sagrado e a duna de loucura que pousa
Viva atrás das flores entre as paredes, na paisagem silenciosa,
Nas lacunas da biografia, no escurecer d’alma, no aviso.
Um manto de oxímoros a desconstruir fotografias,
Calar momentos que se moviam lentos nas filosofias,
Donde estava a voz dos pés descalços? Como era antes?
O que se vê por trás dos livros que servia aos semelhantes?
De fato, roubaram-lhes a solidão e os dias aqueceram
Delírios, brutalizaram as horas e pincelaram
O colorido das flores dos jardins no açoite,
Tudo na calmaria daqueles olhos à noite.
Olhos que enxergavam a sangria pela propina,
Veem estudantes ameaçados a parir seus adágios na rua,
A ruminar seus escritos ao sanar a fome,
A implorar abrigo aos amigos sem nome;
No final, não era Coimbra, nem o tempo em si,
Não era o agosto de 2022, nem o verão a se ir,
Era o presente estacado por dentro de algo
Antigo, que finge futurizar algo que não é novo.
Posto que me assombra antiguidade disfarçada
Por traz das telas dos computadores,
Servidores humanos a lhe coagir propina
Em tempo, se não pagar não entra,
Morre de frio no relento, desassistido,
Desorientado, desgovernamentado,
Acimentado num banco frio de rodoviária
A pensar nas loucuras dessa viagem:
Se não tiver dinheiro, não venha sonhar.
Na mudança da RU Pedro Nunes onde eu estava alojada em 2022, tive um problema tenso com SASUC (Serviço Social), como meu cartão de crédito não é aceito pelo serviço por ser do Brasil, tive que ir a Lisboa fazer um saque em caixa eletrônico. No dia da entrada, para deixar a mudança no alojamento de férias RU do polo III, fui barrada na entrada mesmo com meu nome na lista de acesso de vaga, pois o pagamento não havia compensado ainda. Não tive lugar para dormir neste dia. Fui a Lisboa e voltei em um bate-volta, e não pude entrar no meu quarto, dormir em uma cama, e fiquei pela rodoviária mesmo, ao relento neste dia.
No caminho de ida e volta a Lisboa recebi três ligações do SASUC pressionando-me a pagar, a pagar, a pagar, senão não teria direito ao quarto. Isso porque já havia pagado o mês de agosto, só não havia compensado na conta deles.
Mas acho esse tipo de COAÇÃO um absurdo, e fazem isso com todos os alunos, seja de licenciamento, mestrando ou doutorandos. A regra dos alojamentos diz que o aluno deve estar devendo DOIS MESES para ser impedido de entrar no alojamento, ou ser despejado, sei lá… eu só sei que não devia nem isso. Fiquei chocada com ação sanguinária dos Serviço de Ação Social da Universidade de Coimbra. E até hoje me choco, pois tem acontecido com muita frequência com outros colegas de PHD.
Enfim, hoje eu na RU Polo III, não sinto que alguma coisa mudou, a não ser que paguei o alojamento com antecedência para que não passasse por esse constrangimento novamente. Percebo que eles fazem suas próprias regras e não seguem o regulamento, o que está escrito.
O momento é de falar, muita coisa está a mudar no mundo, não podemos ficar a mercê da desordem de outrem, é necessário compactuar com a evolução das coisas, sinônimo de mudança, de esperança, de fé nas coisas, e também pressionar para que o ser humano continue a caminhar para melhorar estas coisas todas.
Beijo no coração.
Pode ser uma imagem de 1 pessoa, echarpe e óculos
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Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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