um heroi timorense XAVIER DO AMARAL

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Xavier do Amaral
Os meus heróis são normalmente pessoas que de uma maneira ou de outra tentam sobreviver às circunstâncias suas ou das que lhe são impostas. A última vez que falei com Xavier do Amaral foi antes das eleições para a Assembleia Constituinte. Morava lá para os lados de Lecidere bem perto da minha casa no Bairro dos Grilos. Estava vestido com um lençol completamente branco que me fez lembrar em certa medida a figura de Gandhi. Lembro-me que na altura Xanana Gusmão era projetado como sendo o Mandela. Houve uma determinada altura em que coexistiam em Timor, um Mandela e um Gandhi. Conjuntamente com Ramos-Horta fundou a ASDT que mais tarde acolheu a FRETILIN que fora fundada em Lisboa pelos estudantes universitários como Abílio de Araújo, Vicente Sahe, Carvarino, Hamis, Maria do Céu e outros. Xavier do Amaral nunca se ajustou muito bem com o carácter revolucionário da FRETILIN. Adivinhava-se que mais cedo mais tarde havia de ter lugar a ruptura. Era social-democrata e livre pensador. A disciplina revolucionária não se coadunava com o seu carácter. Proclamado Presidente da República na capital e, no mato, durante a guerra da guerrilha foi deposto, sendo acusado de alta traição. Aguardava por ele a mais severa de todas as penas: fuzilamento. Entretanto o acampamento onde estava detido foi capturado pelos militares indonésios tendo ir servir como tratador de cavalos de um general que desta forma quis humilhar o homem que havia proclamado a República Democrática de Timor-Leste. Após o referendo esteve em Lisboa coincidindo com a vinda gloriosa de Xanana Gusmão. Lembro-me da frieza com que ambos falaram no pavilhão de Timor na Expo. Um era o herói e ou outro o vilão. Mais tarde viria a ser recuperado como herói nacional. Está enterrado no cemitério dos heróis, em Timor-Leste. “Xavier do Amaral, o sobrevivente”. Este será talvez o título do próximo romance que escreverei. Claro se o tempo e as circunstâncias em que vivemos me permitirem.
So help me, GOD!