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Covid-19. Os cientistas que contrariam o pessimismo, o alarmismo e o catastrofismo das pessoas vulgares e ordinárias

“Devemos pensar no corona como uma gripe severa. É entre quatro e oito vezes mais forte do que a gripe comum, no entanto a maioria das pessoas permanecerão saudáveis e a humanidade sobreviverá”
N o meio da tragédia que a Covid-19 tem gerado no mundo, e agora em especial na Europa, bem como dos quadros negros que têm sido desenhados para o futuro próximo, alguns cientistas surgem a contrariar o pessimismo.
Um deles é o bioquímico Isaiah Arkin, da Universidade Hebraica em Jerusalém. Numa entrevista ao jornal “Times of Israel”, começa por ressalvar que não é médico nem virologista, mas alguém que estuda determinados mecanismos dos vírus. E refere que se ocupa da gripe e do SARS desde há décadas, tendo tido a surpresa de constatar que o novo coronavírus é largamente semelhante àquele que causou a epidemia de SARS em 2002-2003. O seu nome científico reflete essa semelhança: SARS Coronavírus 2.
Discute a seguir as várias estratégias eventuais para combater o vírus, uma das quais a vacina ainda não existente mas na qual tantas expetativas têm sido colocadas. Moderando essas expetativas, sugere que na melhor das hipóteses ela demorará uns seis meses (recusa ser taxativo em relação ao prazo) e provavelmente bastante mais, podendo mesmo nunca chegar a existir, tal como não existem vacinas para a hepatite C, o HIV ou o SARS.
Outra abordagem que se está a tentar, a procura de um medicamento inibidor do vírus, também não tem garantias de sucesso. Mas Arkin recusa considerar apocalíptica essa conclusão. “Isto não vai matar a humanidade. É uma doença que atinge sobretudo os idosos”, diz. “Não que não queiramos saber dos idosos. Mas para pessoas que não são classificadas como idosas, isto gera uma infeção no tracto respiratório que não é muito grave e a maioria das pessoas têm sintomas muito suaves”.
Explica que a taxa de mortalidade habitualmente referida, de entre 2 e 3 por cento, está nesse nível pelo facto de os idosos serem mais suscetíveis à doença, e conclui: “Não vamos ver milhões e milhões de pessoas morrerem. Isso não vai acontecer”.

Na sua opinião, algumas das medidas agora tomadas pelos governos têm sobretudo a ver com o medo do desconhecido. Aponta para o número de mortos na China – cerca de 3 mil, numa população total de 1,5 mil milhões – e nota que as infeções no país parecem ter estancado. Admite que o recolher obrigatório pode ter sido uma causa disso, mas questiona se se trata de uma solução aplicável em todo o mundo.

Após uma discussão sobre se o facto de não se conhecerem os números de pessoas infetadas que são assintomáticas – em parte, por falta de meios para testar toda a gente – pode estar a afetar as taxas de mortalidade estimadas neste momento, afirma: “Se quisermos ser um pouco otimistas, muitas pessoas recuperaram deste vírus na China”.
Lembrando que não se trata apenas de as pessoas não irem morrer mas de ficarem sem quaisquer sintomas (“são alguém que podemos abraçar em público”), conclui dizendo que o vírus não é “um assassino assim tão mau”. Embora reconheça que o futuro permanece incerto.

UM MODELO DE CRESCIMENTO EXPONENCIAL COM FALHAS
As conclusões de Arkin vêm na sequência das de um outro cientista, Michael Levitt, que em 2013 ganhou o prémio Nobel da Química. O seu interesse pela situação do vírus na China foi quase um acidente – a sua mulher estuda arte chinesa e os dois têm contactos no país – mas quando começou a estudar os números, na primeira semana de fevereiro, ao fim de uns dias constatou que o número de infeções tinha começado a descer. Com base na evolução, concluiu que o vírus poderia desaparecer do país no fim de março e o fim da pandemia devia estar próximo.
“Há várias razões para isto”, explicou numa entrevista que o “Calcalistech” publicou há dias. “Nos modelos de crescimento exponencial, assume-se que novas pessoas podem ser infetadas todos os dias, pois continuamos a conhecer novas pessoas. Mas, se considerarmos o nosso próprio círculo social, basicamente encontramos as mesmas pessoas todos os dias. Encontramos pessoas novas nos transportes públicos, por exemplo. Mas mesmo no autocarro, ao fim de algum tempo, a maioria dos passageiros estarão ou infetadas ou imunes”.
A rigorosa quarentena imposta pelo governo chinês e as regras de distanciamento social também tiveram um efeito, obviamente. Elogiando as ações do governo chinês e reiterando a importância do isolamento social (“quanto mais severas as medidas defensivas tomadas, mais tempo se consegue para preparar os tratamentos necessários e desenvolver uma vacina”), Levitt nota que em Itália a elevada percentagem de idosos e os hábitos de vida social justificam a dimensão que a crise atingiu.
Mesmo levando-as em conta, muita gente parece ter imunidade natural ao vírus, segundo diz. Afinal, até nas condições ideais de contágio que um navio de cruzeiro proporcionou, apenas 20 por cento das pessoas ficaram infetadas, uma percentagem próxima à da gripe.

“É a minha mensagem”, diz ele na entrevista. “Devemos pensar no corona como uma gripe severa. É entre quatro e oito vezes mais forte do que a gripe comum, no entanto a maioria das pessoas permanecerão saudáveis e a humanidade sobreviverá”. Também aqui, é um tom otimista que muitos responsáveis políticos e de saúde preferem não usar neste momento.

EXPRESSO.PT