turismo em excesso? no futuro será pior…leiam

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192. dia 1 junho 2025 domingo (crónica de junho 2018)

 

Acordei para mais um magnifico dia de sol sobre a baía de Ponta Delgada. Em frente à marina as pessoas aguardavam a vez de embarcarem no metro de superfície para as praias da costa sul ou para norte e oeste. O investimento em infraestruturas ferroviárias fora desencadeado no fim da década anterior quando os Açores começaram a receber cerca de 3 milhões de turistas ao ano. Ao contrário do que sempre fora feito, não investiram em estradas para um trânsito, cada vez mais congestionado, e introduziram várias linhas de metro de superfície que se alargavam já a vastas áreas da ilha. Faltava ainda acabar a ligação Ribeira Grande – Nordeste e Nordeste – Povoação. Aqui, fora já instalado o primeiro de uma série de teleféricos turísticos para quem queria ir ao Pico da Vara observar o habitat natural do priolo essa ave que se extinguira com o aumento do influxo turístico em 2020. Havia projetos para mais teleféricos nas Sete Cidades, Furnas, Povoação, Lagoa do Fogo, mas com os cortes de fundos europeus era incerta a data da sua concretização.

Na marginal de Ponta Delgada, perto da Calheta de Teive um moderno heliporto servia de base aos táxis aéreos de drones sem condutor que faziam viagens curtas até Vila Franca e ao ilhéu na nova marina, enquanto mais adiante os táxis marítimos sem condutor aguardavam os turistas que queriam observar a vida marinha ou ir até Santa Maria visitar a Central Espacial da Malbusca.

Na costa norte da ilha, como sempre aconteceu ao longo dos séculos, as coisas estavam ainda muito mais atrasadas e apenas se disponibilizavam passeios de barco pela costa, usando os antigos barcos de pesca de Rabo de Peixe, Porto Formoso e da Maia com os pescadores reformados a servirem de guia às grutas e praias esconsas da ilha.

A grande estrada marginal entre os Arrifes e a Achada ia prosseguindo com grandes atrasos, que a costa era escarpada e não era fácil construir uma estrada panorâmica na inclemente costa nortenha.

A grande atração da capital da costa norte continuava a ser, desde há muitos anos, a das viagens de balão entre a cordilheira central e a Ribeira Grande, o roteiro das igrejas, os campeonatos de surf e as mariscadas ao pôr do sol. Os planos para recuperar os moinhos da costa norte nunca avançaram, dadas as necessidades de apoio social à sempre crescente população da cidade satélite de Rabo de Peixe e suas inúmeras necessidades de apoio social. A cidade crescera em todas as direções sendo agora uma linha contínua de habitações entre as Capelas e a Maia, que se haviam tornado meros subúrbios dormitório da Ribeira Grande.

O pequeno submergível que iria explorar os navios afundados junto à costa oeste e norte, fora desviado para a Lagoa e Vila Franca onde estava sempre ocupado em viagens contínuas de exploração do fundo subaquático. Pequenos hotéis de charme ao lado de grandes resorts polvilhavam agora as pequenas faixas de praia entre Água de Pau e Ponta Delgada riscando a paisagem em altura e desafiando as leis da gravidade.

Diariamente navios faziam percursos entre as ilhas, transportando massas de gente e viaturas e colocando enorme pressão nos recursos, há muito esgotados, das redes viárias das outras ilhas que nunca beneficiaram do afluxo turístico sempre centrado em São Miguel, uma ilha que tinha agora mais de um milhão de habitantes. As pessoas faziam passeios até às outras ilhas que tinham mantido os encantos urbanos do século XX e eram agora Património da Humanidade.

O Aeroporto da Nordela vira a sua extensão duplicada sobre o mar e era já um dos mais congestionados do país, mas continuava a não ter transporte urbano entre o aeroporto e a cidade devido ao lóbi dos táxis que sempre se opuseram às carreiras de minibus.

O novo cais de cruzeiros em Santa Clara fora uma aposta ganha dado que o velhinho Porto e as instalações das Portas do Mar há muito se tinham mostrado insuficientes para as dezenas de cruzeiros que todos os dias aportavam a Ponta Delgada.

A ilha fervilhava de atividade embora o custo do metro quadrado fosse quase tão caro como em Malibu, Los Angeles, com a cidade estendendo-se agora até às Capelas e chegando aos limites urbanos da Ribeira Grande. A pe quena cidade da Lagoa, que durante anos fora o dormitório de Ponta Delgada, já não tinha mais por onde crescer entalada entre a expansão de Vila Franca e de Ponta Delgada. Os domos de antigos vulcões que dantes pintalgavam a paisagem de Ponta Delgada tinham sido substituídos por enormes construções em altura pagas a preço de ouro. Os Açores eram a nova moda dos milionários de todo o mundo que aqui construíam casas de férias, jogavam golfe ou iam aos doze casinos espalhados pela ilha e que se haviam instalado, em muitos casos, nos museus vazios que foram construídos no início do século XXI..

Nas velhinhas Portas da Cidade um pequeno grupo de octogenários juntava-se anunciando a grande manifestação de 6 de junho para espanto dos turistas que sempre traduziam RAA como República Autónoma dos Açores desconhecendo o seu verdadeiro nome. Uma recente visita conjunta do primeiro ministro da Escócia e do ministro dos estrangeiros das Canárias tinha resultado numa declaração de apoio às reivindicações independentistas açorianas, muito a contragosto do Representante da República, que fora um influente presidente regional durante muitos anos.

 

Lomba da Maia (31.5.18)