TIMOR, MATARAM VITOR SANTA 1975

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Lusa – Dias das Independências
40 anos/Timor-Leste: A misteriosa e polémica história da morte de Victor Santa
*** Por António Sampaio, da agência Lusa ***
Laulara, Timor-Leste, 24 nov (Lusa) – Do caos que foi Timor-Leste em dezembro de 1975, um dos casos cujos contornos continuam por explicar na totalidade é o da morte de Victor Santa, um intendente administrativo português, na altura presidente da Cruz Vermelha em Díli.
Sabe-se que Victor Santa esteve detido pela Fretilin em Díli – José Ramos-Horta confirma até, num dos seus livros, que foi espancado na cadeia – e que foi transportado com outros presos para Aileu depois da invasão indonésia.
Terá fugido, terá sido abatido em fuga e enterrado onde morreu, numa das encostas de Laulara, a poucas dezenas de quilómetros da capital timorense, mas as circunstâncias exatas da morte, os responsáveis e os restos mortais continuam por descobrir, apesar de inúmeros esforços da família.
Praticamente esquecida, a história de Victor Santa voltou a ser recordada há 12 anos, em setembro de 2003, quando a sua filha, Celeste, se deslocou a Timor-Leste, pela primeira vez desde 1964, para tentar encontrar os restos mortais do pai.
Uma viagem, como recordou à Lusa, que pretendia fechar um capítulo da história da família que, como muitos dos momentos entre o 25 de abril e a invasão indonésia, também fica pautado por críticas às autoridades portuguesas e à forma como o pai foi tratado.
“O governo português durante muito tempo nem queria falar connosco. Só mais tarde é que aceitaram admitir que ele estava morto”, recordou na altura.
Celeste Santa foi especialmente crítica do último governador de Timor Português, Lemos Pires, acusando-o de ter abandonado o pai às mãos da Fretilin e de se ter até recusado a receber a mãe. “Andava sempre muito ocupado. Nem nos atendeu”, acusou.
Nascido em Timor-Leste, Victor Santa seguiu as pegadas do pai, enviado para a administração da antiga colónia portuguesa com a mulher algures entre 1920 e 1930.
Assumiu várias funções administrativas na antiga colónia e a par do seu último posto, como intendente, assumiu ainda a presidência da Cruz Vermelha.
José Juanico Pereira dos Santos, um dos presos da Fretilin que acompanhou Victor Santa praticamente até ao local onde foi morto, foi um dos últimos a vê-lo ainda vivo.
Aquando da visita de Celeste Santa, contou à Agencia Lusa que no dia 07 de dezembro, depois dos primeiros paraquedistas indonésios saltarem sobre Díli, um destacamento da Fretilin partiu do quartel-geral do partido, em Taibesse, com centenas de prisioneiros. O destino era Aileu, 45 quilómetros a sul da capital.
Na madrugada do dia seguinte, depois de pernoitarem no caminho, ouviram tiros, suspeitando que ou a coluna estaria a ser atacada ou alguém tinha fugido, suspeita confirmada quando a marcha foi retomada, de manhã.
“Alguém disse que o Santa tinha fugido. Foram atrás deles e parece que aqui perto o executaram. Ia com outro português e um timorense. Foi enterrado ali, ao pé de um tanque que há ao fundo daquela ribeira”, disse na altura Pereira dos Santos.
Pouco se sabe de concreto sobre o que levou Victor Santa – que estava em Timor Ocidental desde agosto de 1975 – a aceitar um convite para regressar a Díli feito pelo empresário australiano Frank Favarro – dono do hotel Díli e o piloto responsável pela ponte aérea entre a capital de Timor-Leste, o lado indonésio e a ilha de Ataúro.
Assim que aterrou seguiu para o Hotel Díli. Mal teve tempo de pousar as malas. Pouco depois de tomar banho e antes mesmo de poder tomar o café, um grupo de elementos da FRETILIN estava no local para o deter.
Depois o rasto torna-se mais difícil de seguir. Terá passado por alguns locais antes de ficar detido, formalmente, no Quartel-General da FRETILIN em Taibessi de onde partiu para o que seria a sua última viagem.
Passados quase 28 anos, em 2003, surgiu um primeiro sinal de esperança na busca de informações, com Celeste Santa a ser informada de que um casal, em Díli, teria mais dados.
O casal prometeu levá-la ao local onde Victor Santa, um outro português – identificado apenas por cabo Andrade – e um timorense terão sido executados. Admitiram terem sido eles a enterrar os corpos. Mas a esperança dilui-se quando o local foi visitado.
O tanque no local onde terão sido mortos ainda lá permanece. Mas pouco mais desse tempo terá sobrevivido.
“É difícil. Dizem que quando chove aquilo ali parece uma ribeira”, conta um familiar, também envolvido nas buscas que tardaram mais de um quarto de século.
ASP // JMR
Lusa/Fim
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  • Milena Pires

    Um homen e uma história a não esquecer. Daquilo que ouvi o meu Pai a contar do Sr Vitor Santa, com quem trabalhou, decidiu regressar pela responsabilidade que tinha e sendo da Cruz Vermelha não se sentia ameaçado.
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    • 3 h
  • Beto Barbosa

    Sim e esta e a historia dos assasinos q dizem defender a independencia e ainda merecem ser sepultados como herois. Que vergonha.
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    • 6 h
  • Jose Luis Madeira Valadares

    E alguns assassinos estão no cemitério dos herói
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    • 1 h
  • Pedro Lebre

    Lembro do Administrador Vitor Santa preso juntamente com o Majìolo Goveia e outros agents da administração do governo Português Timorenses e Metropolitanos. Com a ICRC fui vàrias vezes fazer visitas e dar assistência médica e logistica. OS prisioneiros…

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    • 8 h
  • Jose Carlos Sequeira

    Alguns desses assassinos ainda estao vivos e a desfrutarem uma pensao como herois
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    • 3 h