teatro açoriano na Califórnia

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“É um bichinho que tenho dentro de mim, que trago da Fajã de Baixo, e jamais morrerá”
Fajã de Baixo é conhecida como terra de gente do Teatro.
Nomes como Natália Pimentel, José Barbosa ou Hermínio Arruda honram a freguesia próxima de Ponta Delgada.
Foi lá, no meio desta famosa escola, que nasceu, viveu e conviveu Teresa Paula Ferreira, outro rosto famoso do Teatro de revista e não só, levando consigo o “bichinho”, como ela diz, para as terras da América. A sua história é agora contada, em discurso directo, nesta entrevista ao Francisco Resendes.
Desde a tenra idade de infância, aos 8-9 anos de idade, Teresa Paula Ferreira, natural da Fajã de Baixo, São Miguel, “apaixonou-se” pela arte de representar, pelo teatro.
Criada num meio e ambiente artístico em que surgiram várias figuras que mais tarde integrariam o mundo da música, do teatro, da televisão e do cinema, foi incentivada por gente amiga a concretizar o seu sonho.
Aconteceu e rapidamente.
“Recordo que representávamos no quintal e convidávamos os vizinhos a assistir e depois integrei o Grupo Teatral da Fajã de Baixo, em São Miguel, ligado à Casa do Povo e constituído por gente conhecida, como por exemplo Natália Pimentel, Julinho Pimentel, José Barbosa e Hermínio Arruda, entre outros”, diz em entrevista ao PT, desde a sua residência em Gilroy, na Califórnia.
E assim tudo começou, aos 12 anos, no final da década de 1950, com as reuniões a acontecerem na sapataria do meu pai.
A Teresinha era muito tímida.
“O Hermínio Arruda falou com meu pai (Francisco Ferreira), de quem era muito amigo, para me ouvir cantar, em jeito de uma primeira audiência e lembro-me que estava tão envergonhada que me recusei a cantar na frente dele, pelo que tive de ir para outro quarto cantar”, recorda.
Permaneceu no grupo durante vários anos e, para além de muitos espectáculos (teatro revista) em diversas localidades na ilha de São Miguel, nos anos 60, o grupo deslocou-se em digressão às comunidades lusas nos EUA (1968), nomeadamente aqui na Costa Leste.
“Éramos muito solicitados para atuações em todo o lado e recordo que aos domingos aconteciam espectáculos à tarde e à noite, matinées e soirées”, recorda Teresa Paula Ferreira, que adianta: “A reação do público era fantástica e os nossos espectáculos eram realmente empolgantes”.
Na digressão do grupo aos EUA, em 1968, Teresa e a irmã resolveram permanecer por estas paragens.
“O grupo regressou a São Miguel e nós ficámos por aqui passando a residir na Califórnia”, sublinha a nossa entrevistada, que deu continuidade a esta arte.
“Aqui na Califórnia fiz teatro, com vários espectáculos durante o ano e também pelo Natal no Portuguese Athletic Club, em San José e em Santa Clara, onde residi durante alguns anos”.
Reside há nove anos em Gilroy, localidade conhecida pelo cultivo de alho na Califórnia e tem visitado a ilha de São Miguel, a última das quais há três anos.
Como surge a figura de “Minha Mamã Teresinha”
“O teatro é como um bichinho que está dentro de mim, adoro fazer as pessoas rir e a divertirem-se e um dia resolvi criar, há quase dois anos a figura de Minha Mamã Teresinha, incentivada pela minha filha Nancy, que faz as gravações publicadas na minha página do Facebook e no YouTube.
Tenho vídeos com mais de 20 mil visualizações, com reações encorajadoras, talvez porque são baseados em histórias reais, conselhos, muito à nossa maneira com aquela intimidade e afetividade que as pessoas gostam e com as quais muitos dos espetadores se relacionam”, salienta Teresa, que, com a sua veia artística, faz uma história de qualquer coisa, como por exemplo a sua ida ao dentista, ao massagista, cujos vídeos são gravados pela filha, que faz de entrevistadora, em peças espontâneas, sem filtro e tudo de improviso.
“Não estudo nem preparo o que vou dizer, tudo sai espontaneamente ali na hora”, confidencia, adiantando ainda: “Temos quase 11 mil seguidores nas peças que produzimos, alguns destes vídeos com mais de 50 mil visualizações e as pessoas pedem-me sempre mais, que apreciam não apenas a forma como represento mas também pelo sotaque autêntico micaelense”, refere Teresa, adiantando que muitos dos seus seguidores têm origem nas comunidades portuguesas no Canadá e aqui na Nova Inglaterra.
Gravou um CD de temática religiosa
Outro projeto em que se envolveu, foi a gravação de um CD, com 10 canções de temática religiosa e cuja produção foi de autoria do popular cançonetista Alcides Machado, natural da ilha de São Jorge e residente há vários anos na Califórnia.
Criada e nascida num ambiente de família religiosa, devota de Nossa Senhora de Fátima, resolveu há um ano gravar videos com a recitação do terço.
“A minha filha incentivou-me a recitar o terço em gravações ao vivo e a resposta tem excedido as expetativas iniciais.
Semanalmente aos domingos, pelas 3h00 da tarde (hora da Costa Oeste dos EUA), recitamos o terço…
Fazemos um altar, oramos pela paz no mundo, com cânticos religiosos, num verdadeiro momento espiritual, de reflexão e de aproximação com Deus, com a duração aproximada de 1 hora, e o que me impressiona é que muitas pessoas acompanham-nos enviando mensagens e pedidos para orarmos por este ou aquele membro da família ou pessoa amiga”, sublinha Teresa, adiantando que muitas destas gravações são partilhadas entre as várias pessoas.
Com 75 anos de idade, confidencia-nos que esta paixão pelo teatro nunca morre. “Se surgisse uma oportunidade de integrar um grupo teatral e fazer espetáculos pelas comunidades aceitaria de bom agrado”, conclui Teresa Paula Ferreira ao Portuguese Times.
Por Francisco Resendes (Exclusivo Portuguese Times/Diário dos Açores)
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