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SILVA PORTO E A TRAIÇÃO DOS IMPÉRIOS
Silva Porto e a traição dos impérios – do Afeganistão
Uma resumida história da traição dos impérios àqueles que os serviram e que por eles deram a palavra de honra. Ou que acreditaram que os seus impérios seriam entidades honradas e não de canalhas. Uma história do Afeganistão, mas já foi do Vietname. E nós, portugueses, temos histórias parecidas. Lembro-me de Silva Porto.
Silva Porto foi um português, sertanejo em Angola no século XIX. Estabeleceu relações de confiança com os chefes locais no centro da antiga colónia, no Bié. Na sequência do ultimato inglês, o capitão Paiva Couceiro foi enviado, pelo governo de Lisboa, para o centro de Angola e pediu a Silva Porto para estabelecer um acordo de aceitação da presença portuguesa e de colonos com os chefes locais. Os chefes locais aceitaram esse acordo a troco da promessa de que os soldados de Paiva Couceiro estavam apenas de passagem e não para instalarem ali um forte. Contudo, Paiva Couceiro permaneceu na área, o que levou o chefe do Bié a enviar um ultimato: Couceiro e as suas tropas deviam sair do Bié na manhã seguinte. Indignado com estas exigências, Couceiro enviou Silva Porto à aldeia para negociar um entendimento. Silva Porto tentou resolver as tensões. Durante o confronto com Dunduna, este chefe angolano chegou a puxar a barba branca de Silva Porto; Dunduna estava indignado por não ser informado das intenções de Paiva Couceiro e insultou Silva Porto, ao dizer que não teria caráter para usar barba, símbolo de respeito. Voltando ao Bailundo, Silva Porto perguntou sobre a certeza do Ultimato, o que irritou Paiva Couceiro. Paiva Couceiro reparou que o velho sertanejo tinha barris de pólvora, o que Silva Porto, rindo, declarou ser apenas areia. Em 1 de Abril de 1890, o velho explorador envolveu-se numa bandeira Portuguesa, e deitando-se sobre os barris de pólvora acendeu o pavio. Morreria no dia seguinte, dos ferimentos. Tinha setenta e dois anos. Não aceitou ver a sua palavra traído pelos seus. Pelos chefes do seu império.
Acredito que nenhum americano, ou inglês, ou algum canalha dos 42 estados da coligação que apoiou a ocupação do Afeganistão se embrulhe numa bandeira para honrar a sua palavra.
Não haverá nenhum Silva Porto no Afeganistão. Aqui em Portugal lembro-me de dois canalhas, o Barroso e o Portas. Bem nutridos e com ar respeitável. A imagem é a de um Homem, de pé, a olhar de frente. De nenhum canalha se fará uma estátua assim.
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