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Texto de Isabel Biscaia
Texto de análise publicado nesta página em 2012. “Tudo como dantes, quartel general em Abrantes”…
“Os interesses de Santa Maria ou a inércia consolidada …
Sem dúvida alguma, existem interesses velados (por parte de quem, já todos sabemos) na destruição lenta e gradual das valências, das capacidades, de algumas instituições e da capacidade de resposta que Santa Maria já teve e de que necessita para que a sua economia não sucumba.
Já todos sabemos que existem interesses dissimulados por detrás das repetidas desculpas, evocando a crise e a falta de verbas, para que não se mantenham infraestruturas que são essenciais em Santa Maria. Os serviços, que até há pouco eram o motor de grande parte da economia mariense, estão aos poucos a ser eliminados, ou a serem transferidos para S. Miguel. Não se criam novos serviços, novas empresas, não há respostas às necessidades da população da ilha. Cada vez mais quem necessita de algo tem que o procurar fora da ilha.
Desde que foi criado o chamado “Grupo de Coesão” que esse desgaste se vem fazendo a coberto de “novos “ processos de gestão do arquipélago, de “inovações do desenvolvimento e da tecnologia” e da economia açoriana, com desculpas de mau pagador, vai-se atirando areia para os olhos daqueles que estão a sofrer na pele e assistem ao estertor da vida mariense, em prol do desenvolvimento de duas ilhas que são as principais desse Grupo de Coesão: S.Miguel e Terceira.
Os interesses políticos são óbvios: Estas duas ilhas têm 2/3 da população total do Arquipélago, ou seja 75% do total dos votos dos Açorianos. Os restantes 25% encontram-se distribuídos por todas as outras ilhas.
Há que não esquecer que em Outubro próximo terão lugar eleições para o novo Governo Regional. Santa Maria, que está na ponta esquecida do Arquipélago, será em breve, se a esta política não houver quem tenha a coragem de fazer frente, um satélite de S. Miguel.
Não tarda que Santa Maria venha a ter o papel que a ilha do Porto Santo desempenha no arquipélago da Madeira, o de uma estância turística, ou a praia dos madeirenses ricos.
Santa Maria será a estação de veraneio dos micaelenses.
Será, para eles, muito fácil apanhar o barco e em poucas horas estar a gozar do descanso das areias douradas das praias marienses.
Não irão de avião, porque estes serão escassos os que aterrarão em breve em Santa Maria. Sei que nos dias de hoje, já muitas das escalas técnicas estão a ser feitas em Ponta Delgada. Já nem para isso o grande e bem estruturado aeroporto de Santa Maria serve. Já serviu, mas nunca deixou de haver a “pedra no sapato” por parte dos diversos governos regionais por Santa Maria estar equipada com valências aeroportuárias que não existiam em S. Miguel.
Chegaram os tempos da “vendetta” política. Tira-se Santa Maria do mapa. Os marienses, se quiserem algum serviço, compram um bilhete e vão a S. Miguel… é na economia da ilha vizinha que vão deixar o seu dinheiro.
Santa Maria vai sucumbindo… os seus naturais, resignados e contagiados por um mal que é proveniente da inércia a que há muito se habituaram, limitam-se a constatar o seu morrer lento e a imaginar o que será no século XXI voltar ao ritmo lento que já existiu no início do século passado, naquela pequena ilha que um dia já foi tão grande.
O isolamento de Santa Maria só é quebrado nos meses de verão, com o chamado turismo da saudade. A geração de emigrantes que vive no outro lado do Atlântico ainda tem laços e memórias que os fazem querer voltar ciclicamente, ano após ano, no mês de Agosto a Santa Maria. Matam saudades das gentes, de amigos e familiares que ainda por lá vivem, dos seus caminhos e da sua gastronomia.
É o tempo do reencontro…por enquanto.
Daqui a uns anos, poucos já serão os que a irão procurar, pois esta geração já não existirá e a geração seguinte, já não será chamada para voltar às suas raízes, pois os seus interesses são desviados para outros horizontes mais chamativos.
Para que Santa Maria não morra, para que se trave este assassinato da nossa terra, é necessário que aqueles que a amam, que se encontram a viver lá e os que estão fora, se dispam de interesses partidários e individuais e se unam em prol do interesse principal que é o interesse económico, a seiva da ilha. Há que unir esforços, dar as mãos e lutar contra os interesses políticos de meia dúzia de dissimulados que com palmadinhas nas costas e sorrisos seráficos vão sugando o que podem, ditando a sentença de morte da nossa querida ilha.
Talvez não fosse má ideia uma reflexão profunda, que as pessoas se juntem, se esqueçam das quezílias políticas e falem umas com as outras, que unam esforços e as suas capacidades e de uma única voz a façam ouvir e saibam como defender os interesses de Santa Maria que não são mais do que uma aposta real e futura nas pessoas e nas suas famílias.
A ilha de Santa Maria é pequena, mas os marienses são muitos.
Há que salvar a nossa ilha!”
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