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O REFRESCO DE PIMENTA|
Tenho por hábito trabalhar com as notícias em pano de fundo. Faco-o por duas razões mais ou menos simples: desde logo por detestar o silêncio e, não menos importante, para perceber em que altura deste conflito a coisa se aproximará aqui de casa. Ontem foi um daqueles dias em que tive necessidade de desligar tudo, tal era o chorrilho de calamidade. A dada altura tudo me parece normal, convencional, razoável, até aceitável. Perde-se a sensibilidade e a comocão com tantas desgracas em simultâneo.
Dos criminosos que se andam a matar no seio dos super-dragões, as subidas das taxas de juro pelo BCE, as famílias cada vez mais endividadas com habitacão (esta terá que dar um texto mais tarde), o Boris Johnsson a assinar acordos de defesa com Suécia e Finlândia, a jornalista da Al Jazeera assassinada pelas IDF (“assassinada” não é metáfora aqui), os ucranianos que na câmara de Setúbal defendem os famosos “pró-Putin”, o presidente da associacão de ucranianos, conhecido por dizer que a morte de Hitler fora uma desgraca, a ser recebido por Ventura no parlamento, o estudo publicado pelo Expresso que indica que o uso de máscara continuamente nos tirou imunidade, a ameaca da 6a vaga (who cares?), a nova lei da emergência sanitária, o discurso de Putin, a crise na Moldávia, as intermináveis horas de discussão sobre a guerra em todos os canais, por todos os especialistas, com todas as visões possíveis e imaginárias.
Ao fim de 8h disto pensei que o mundo estava bom para ser tratado como um “crash” do Windows. Desliga e comeca de novo.
Salvou-se Miguel Sousa Tavares, cuja intervencão me pareceu lógica, simples e certeira. Não a vou reproduzir aqui, não é necessário, vocês têm todos uma box e podem ver o momento (partilhando o estúdio da CNN com o Paulinho das Feiras). O que ele disse é, sem tirar nem pôr, o que penso e que vou debatendo com conhecidos há já algum tempo. Estamos numa guerra a três, até assumida pelo secretário da defesa americano.
Hoje acordei com a notícia de que a Finlândia anunciou a entrada na Nato e, a Suécia, vai fazê-lo na próxima 2f. Portanto, o dia tem tudo para ser ainda melhor. Dois anos de covid e o fim da humanidade anunciado com lucros monstruosos para as farmacêuticas e laboratórios. Daí passamos para a injecão de capital nos falcões da guerra. De uma assentada damos razão à estatística, melhor negócio do que a saúde, só mesmo o armamento.
Um professor de ciência política da UMinho diz que esta é uma grande derrota diplomática da Rússia que vê, apesar das ameacas, os vizinhos a aderirem à Nato. Diz-nos também que não há azar em relacão a retaliacões porque o Putin está enfiado até aos cabelos no Donbass. Pronto, se é assim, tudo bem. É informacão que me dá algum jeito na minha geografia actual.
Helena Ferro Gouveia acrescenta ainda que a Rússia está a perder esta guerra e por isso usa a ameaca do nuclear. Um pouco como o gordo que só empresta a bola quando o deixam jogar.
Entretanto, em Azovstal, um comandante do 36o batalhão de marines desistiu de esperar pelo Zelinsky, Nato, ONU, UE ou Avengers e resolveu apelar ao Elon Musk. Percebo o desafio mas julgo que apostaram as fichas na pessoa errada. Se Mariupol tivesse lítio, a coisa ainda se fazia como na Bolívia, agora só com ferro e carvão, acho que não vão lá.
Julgo que o que os marines/azovs/combatentes em geral, abandonados pelo seu governo, precisam mesmo é de sintonizar uma televisão portuguesa para perceberem que não precisam de ajuda. Não estão a perder a guerra.
Oucam a Helena e compreendam que sentados ao sol de Lisboa, longe, bem longe, pimenta no cu dos outros ainda é, hoje e sempre, refresco.
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