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Diana Santos is
feeling tired.
O PÃO NOSSO DE CADA DIA
Hoje, depois do trabalho, precisei ir fazer umas compras a um shopping a cerca de 4 km da minha casa.
Para o dito shopping decidi ir de metro. O Sto. Expedito (milagreiro das causas impossíveis) estava do meu lado e o elevador até nem estava avariado. Azar dos azares – porque isto de andar de cadeira de rodas exige ser bafejado com alguma sorte – fiquei esquecida dentro da carruagem e as rampas que me permitem sair em segurança não chegaram a tempo. Este pequeno “decalage” do funcionário do metro, custou-me uma voltinha até ao aeroporto (fim da linha) e a respectiva volta atrás, para conseguir sair onde queria, já com o necessário apoio a postos.
AQUI É IMPORTANTE LEMBRAR QUE A ASSISTÊNCIA PESSOAL TEM HORÁRIO LIMITADO
Lá fui fazer as compras extremamente necessárias, sem o vagar que o meu corpo pedia, mas com a pressa que os tempos de quem depende de alguém exigem.
O horário de assistência pessoal já não me permitia voltar acompanhada. Opto por voltar de autocarro, onde apesar de tudo consigo ser mais autónoma: não tenho de carregar num botão onde não chego para pedir ajuda aos seguranças, nem atravessar um sem fim de elevadores como no metro.
O 94 já estava lá. Definitivamente não me esperava, pois a rampa estava avariada. O motorista pediu desculpa embaraçado “mas já hoje tinha deixado outra senhora em cadeira de rodas no Bairro do Armador porque a rampa não abriu”. Mostrou-me que já tinha reportado a avaria e disse-me para aguardar pelo próximo que só deveria demorar uns 25 min a chegar.
E chegou. Pontualidade exímia. Contudo, tal e qual alma gémea do anterior, rampa avariada. Expliquei que era o segundo autocarro que teria de reclamar e que já era a segunda vez que eu seria a única cliente a ficar na paragem. O motorista indignou-se e ligou para a central. Do outro lado mostraram-se surpresos com o sucedido, assumiram que realmente a situação era muito desconfortável mas que “com toda a certeza” seria solucionada com o autocarro seguinte.
O terceiro autocarro chega. Parece que é daqueles que polui menos e, por isso, está-se a recorrer mais a ele… até ficaria contente, não fosse um pequeno pormenor: não ter rampa!
Nesse instante não aguento mais e desabo num choro que não sei ser de humilhação, pena de mim, tristeza ou cansaço. A vontade de ir ao WC (onde não consigo ir sem apoio) por esta altura também já não ajudava a manter a compostura.
Depois disso a solução chega. Um autocarro, de outra rota, em modo “reservado” só para mim. Cerca de 1h20 depois de chegar à paragem rumo finalmente a casa.
Acabei de jantar não há mais de 30 minutos e perdi, literalmente, mais 2h, num percurso de 4km que qualquer outra pessoa que não ande em cadeira de rodas.
Tempo. Humilhação. Desgaste. Cansaço. Discriminação.
Foi depois do trabalho…poderia ter sido a ir para lá.
Multipliquem isto por 365 dias.
Será que a antecipação da idade da reforma para as pessoas com deficiência não é uma questão de justiça?
Desculpem se o texto foi aborrecido de ler…mas, por ter uma deficiência, a minha vida às vezes (mas só às vezes) também se torna muito aborrecida!
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