poema de NUNO DEMPSTER

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CHUVA
“O lindo ser dos vossos olhos belos (…)”
Luís de Camões
.
Olhava a chuva atrás dos vidros.
Sem o sol da Meseta
a cidade era doce,
Madrid, uma cidade ao norte,
nas margens do mar Báltico.
Queria dizer-lhe isto
e que afagasse a cinza da Europa,
e estivesse de novo aqui,
aqui onde jamais esteve.
“Non la he visto aún”,
afirmaria o Víctor da cervejaria
onde almoço sozinho,
com a vaga esperança
de não saber se a vida vai chegar
como dantes a quis
e agora me surgia
na cor dos edifícios.
Como é bela Madrid à chuva,
que difícil no entanto é vê-la
para aquém das vidraças
em horas de a fitar sozinho.
Por isso, esqueceria logo
a solidão de olhar
o cenário da calle Cartagena,
se o Victor
viesse à minha mesa
e segredasse:
“Mira quién llegó para comer,
trae en sus dedos una flor de lluvia”.
Nuno Dempster, em “Dispersão – Poesia Reunida, ed. Senpre-em-pé, 2008.
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