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Camilo Pessanha morreu há 97 anos.
Passam hoje 97 anos desde a morte do maior nome do simbolismo em língua portuguesa, uma corrente literária que influenciou grandes nomes da literatura portuguesa como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen ou Eugénio de Andrade, e que também revelou autores como Eugénio de Castro e António Nobre.
Camilo Pessanha está completamente ligado a Macau, mas, ainda assim, não estão agendadas quaisquer homenagens ao poeta conimbricense por mais um aniversário do seu falecimento.
“A título pessoal, como sempre, mas desta vez sem alunos, lá estarei amanhã [hoje] a cumprir o meu minuto de silêncio junto da campa do poeta no Cemitério de São Miguel Arcanjo”, começou por dizer ao PONTO FINAL Alexandra Domingues, docente da Escola Portuguesa de Macau (EPM).
“É mais um ano e, infelizmente, não há nada de novo.
Camilo Pessanha, para meu lamento, está esquecido.
Se os alunos do 12.º ano têm acesso ao poeta é porque o professor acha que deve ser assim, caso contrário, os programas não aludem à sua obra”, lamentou a professora da EPM.
Mas se o autor de “Clepsidra” não é caso único. Alexandra Domingues refere que nomes como Antero de Quental, Sophia de Mello Breyner Andresen ou Cesário Verde também, amiúde, caem no esquecimento de quem faz e promove os programas curriculares nas escolas.
“Vão e vêm.
Uns regressam e outros ficam eternamente esquecidos.
Outros são falados no ensino básico, mas depois, quando se calhar deveriam ser falados, são esquecidos no ensino secundário.
Repare que já nem se dá os “Esteiros” do Soeiro Pereira Gomes, ou a “Aparição” do Vergílio Ferreira.
Qualquer dia Vergílio Ferreira fica esquecido para sempre e chegou a ser obrigatório para exames.
“O Delfim”, do José Cardoso Pires, ou “A Sibila”, da Agustina Bessa-Luís.
Enfim, não quero mais enumerar.
Há livros muito importantes para a literatura portuguesa que estão simplesmente esquecidos”, referiu.
A verdade, considera a docente de Português, é que tanto em relação a estes nomes e outros, “não se pode colocar simplesmente uma esponja”.
“Não se pode apagar Camilo Pessanha.
A sua escrita, que mesmo sendo difícil é muito importante, influenciou outros”, notou,
ressalvando que os anos lectivos “têm limites” e é preciso “fazer-se uma selecção” do que pode ou não ir a exame nacional.
“No 12.º ano temos, e bem, muito Fernando Pessoa, e depois temos, e bem, José Saramago.
Há muito pouco tempo para falar de outros autores, mas eu faço questão de se falar sempre de Pessanha”, vincou.
Para Alexandra Domingues, faz todo o sentido continuar a falar-se de poesia, porque a poesia é “o outro lado” da vida quotidiana.
“É muito importante nos dias de ódio que se vivem hoje.
O sentido da literatura, mas acima de tudo, o sentido da poesia.
Não podemos perder a ligação com os poetas portugueses, porque ler poesia é importante.
Devemos questionar isso: porquê ler poesia?
Porquê ler Pessanha?
E tenho muita pena que não se fale de Pessanha como se deveria falar”, lamentou a docente da EPM,
lembrando a açoriana Natália Correia que, depois do 25 de Abril de 1974, e depois de silenciada pelo regime do Estado Novo, considerou que agora a poesia está na rua.
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