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“Ainda há ladrões honrados”, por Pepetela
Brasília – “É pena que certos banqueiros, especuladores de agências de ratos, e outros ladrões de casaca e lacinho preto, não sejam apanhados da mesma maneira”
Quando uma pessoa ouve ou lê uma boa estória, fica com saudades de um tempo que talvez nunca tenha existido. Por exemplo, o tempo dos ladrões honestos, género Robin dos Bosques ou Ali Babá. Os tais que só roubavam os grandes ladrões. Infelizmente, na realidade, deparamo-nos sobretudo com os grandes ladrões que não são castigados, nem sequer pelos pequenos lhes aliviando um pouco o bolso. É mesmo de acreditar na ausência da justiça.
De repente, no entanto, surge uma notícia e lá voltamos nós a ter esperança, talvez a Humanidade não esteja perdida definitivamente para os liberalismos de nome, os tais que enriquecem os ricos e mais empobrecem os pobres, o tal liberalismo que só autoriza os grandes latrocínios, tão grandes que até mudam de designação e se tornam respeitáveis. O capitalismo que estamos com ele.
Mas vamos lá acender a réstia de esperança. Num desses países avançados do Sul, Austrália ou Nova Zelândia, um larápio roubou a carteira e um telemóvel de um cidadão. Ao analisar os resultados da bem sucedida operação, descobriu no telemóvel furtado fotografias de pornografia infantil. O gatuno entrou numa daquelas situações de encruzilhada, como os grandes caminhantes dos nossos matos. Que faço eu, vou pela direita, pela esquerda, sigo em frente? Porque tinha descoberto um criminoso maior que ele próprio.
Embora fosse reincidente, com vários julgamentos e mesmo prisão por ladroagem, se considerava pessoa de princípios, talvez (não pude confirmar) até de formação religiosa. Em época de crise, mesmo em país rico, há alguns que têm de recorrer a métodos menos corretos para se manterem vivos. Esta seria a sua justificativa para as aventuras mais ou menos perigosas em que incorria. Nada comparáveis a um miserável que abusa de crianças e ainda pode ganhar dinheiro com isso, vendendo vídeos ou fotos a outros tão malucos como ele (os doidos que me desculpem a força de expressão, mas este tipo de gente não é só «perturbada mental», é maluca mesmo, maluca furiosa).
Leia versão integral na edição impressa da revista África21 (N.º 65, JULHO 2012). Para assinar a revista contacte: jbelisario.movimento@gmail.com