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texto de 2017
SONHAR AINDA É GRATUITO, CRÓNICA 176, 28 JULHO 2017, CRÓNICA 186 – 22 OUT.º 2017
Ando farto de fazer zapping aos telejornais que se arrastam – não por horas, mas dias a fio – sempre a esmifrarem a dor alheia, a tragédia, os fogos, as falhas disto e daquilo, as promessas eleitorais da próxima campanha e imaginei um mundo feito à minha medida. Assim, enquanto as imagens mortais desfilavam, imaginava um candidato autárquico a anunciar que decidira não se recandidatar pois não cumprira a maior parte das promessas eleitorais de há quatro anos.
Temos uma população apática e abúlica, uns saudosistas e outros mais novos, sonhadores, mas a menos que haja uma revolução cataclísmica de mentes, seremos uma pequena elite libertária, sem representação nem força popular, uma franja da sociedade que nem chega a ser incómoda para o poder. O povo açoriano não reúne as condições de se emancipar se continuar pobre, iletrado, subsidiodependente, conformado, desapegado de consciência cívica, a quem o fogacho independentista de alguns intelectuais, escritores e outros, pouco e nada diz. Infelizmente é o que temos e não mudará nos meus dias, e se a Terra ainda existir, acredito piamente que, em futuro afastado e longínquo, nos libertaremos do jugo colonial de Lisboa (quando o Belenenses tornar a ser campeão de futebol, por exemplo). Até lá continuemos a fazer o que não temos feito, educar as pessoas, alertá-las para a escravatura silenciosa que as amolece e adormece, repetindo ciclos ancestrais de feudalismo encapotado, anestesiada pelas riquezas que o turismo vai trazendo sem se lembrar que basta a Ryanair ir à falência e o turismo morre.[1].
[1] ….(Nota de 2020, afinal bastou um vírus, COVID-19…)