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DISCURSOS E PAPÉIS ERRADOS
1. A Assembleia Legislativa concluiu o debate do Programa do XIII Governo Regional dos Açores, que foi aprovado com os votos dos partidos que integram a coligação de governo e dos partidos que celebraram acordos de incidência parlamentar com aqueles partidos ou só com o PSD, como é o caso da Iniciativa Liberal.
A votação confirmou a intenção política da nova maioria parlamentar de investir parlamentarmente o novo Governo Regional, permitindo-lhe governar e dar cumprimento ao seu programa, política e ideologicamente diferente do programa do último Governo Regional da responsabilidade do Partido Socialista.
Como seria expectável, a oposição – protagonizada pelo PS – lançou sobre o Programa do Governo os previsíveis anátemas: o de ser pouco concreto, o de ser repetitivo em relação ao anterior, o de mencionar poucas vezes algumas expressões que laboriosamente identificou, o de ser contraditório nas suas opções e o de não ser claro em algumas das opções.
Poderíamos fazer o exercício de pesquisar dos diários das sessões parlamentares e verificarmos que, em anteriores debates, as mesmas críticas ou expressões idênticas foram utilizadas em relação a outros tantos programas de governo. Portanto, nada de muito original.
2. É natural que o Programa do XIII Governo assuma a continuidade de um conjunto de políticas do anterior Governo Regional. O que não se espera é que este seja um governo de continuidade, havendo marcas distintivas muito claras: nas opções quanto às finanças públicas, aos impostos, ao transporte aéreo, à solidariedade social, ao combate à pobreza, ao emprego e ao crescimento económico. As soluções anteriores já provaram o seu fracasso quanto ao crescimento económico, à criação de riqueza e à geração de emprego. Agora é tempo de outras soluções, pois continuar com os mesmos pressupostos seria persistir num antecipado fracasso.
3. O Presidente Vasco Cordeiro foi eleito líder parlamentar do PS e, nessa condição, protagonizou o debate político com a maioria que apoia o Governo, tendo feito o discurso de encerramento, em nome do seu partido. A sua vontade corresponde a uma opção legítima em democracia e a Assembleia Legislativa fica prestigiada com o facto de um antigo Presidente do Governo assumir, pela primeira vez, o lugar de Deputado no parlamento dos Açores.
Precisamente por isso, o Dr. Vasco Cordeiro deve perceber que o seu percurso e o papel que ocupa na nossa história política o deveriam impedir de ter a conduta que assumiu no encerramento do debate do Programa do Governo. Um antigo Presidente do Governo não pode colocar em causa a legitimidade deste XIII Governo Regional, como voltou a fazer, replicando antigos argumentos, numa atitude que não o enobrece e desqualifica o parlamento, sobre o qual recaiu o labéu de investir um governo ilegítimo.
Ferido de morte pelo dossiê da SATA, Vasco Cordeiro não resistiu à vulgaridade: acusou o Secretário Regional das Finanças de mentir, num momento parlamentar em que este não se podia defender, utilizando uma expressão mais própria de outros lugares do que de um Parlamento e que o seu próprio partido não ousou utilizar no comunicado que fez sobre os aumentos de capital decididos pelo anterior Governo Regional e que toda a gente já percebeu que vão ser considerados ilegais por Bruxelas.
Não há uma segunda oportunidade para começar na liderança parlamentar. Vasco Cordeiro foi o fantasma do seu futuro.
(Publicado a 16 de Dezembro de 2020, no Açoriano Oriental)