PEDRO ARRUDA E RABO DE PEIXE

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Passado todo o hype finalmente fui ver Rabo de Peixe, provavelmente, à boleia da marca NetFlix, a mais badalada e mundialmente famosa ficção portuguesa dos últimos anos. Dentro do género não decepciona, como dizia um amigo meu é uma especie de Morangos com Açúcar só que com coca em vez de açúcar. Tem caras bonitas, tiros, bons puros e inteligentes e injustiçados, maus burros e obtusos e mais todos os clichês básicos de uma série deste tipo, fosse ela na Colômbia, no Novo México ou, no caso, em Rabo de Peixe. Em jeito de elogio pareceu-me que essa foi talvez a crítica mais injusta e irracional feita por muitos à série. Rabo de Peixe não é um documentário nem sequer pretende ser, creio eu, uma ficção baseada em factos reais, embora a premissa de fundo se baseie livremente num episódio verídico, mas tirando isso é um produto de ficção feito para agradar a um público global. E, essa é talvez ironicamente a sua maior falha. Nesse esforço de resultar no combate dos ratings do algoritmo Rabo de Peixe está cheia de uma quantidade enorme de clichês por metro quadrado quase maior do que as toneladas de pó que o Bonino despejou no mar dos Açores. O protagonista pobre, mas superiormente inteligente e esbelto apaixonado pela namorada do melhor amigo. O padre gay que tem uma overdose. A Inspetora solitária e frígida. O sexo no terramoto. A coca dentro das santas. A filha rebelde do Chefe da Polícia. Entre tantos outras piscadelas de olho ao main stream hollywoodesco, onde, de resto, a fotografia e a realização não falham até, também, nos saltos narrativos o que numa série sobre cocaina talvez não seja de estranhar… Outra pequena crítica seria ao facto de as personagens femininas serem confrangedoramente pouco desenvolvidas, tanto a Sylvia como na Inspetora fica a sensação de que metade das personagens ficou ou na cabeça dos argumentistas ou na mesa de edição o que aliado ao inexplicável guarda roupa exclusivamente feito de tops de biquíni e soutiens da loja do chinês objetifica-as e a série sofre com isso. Por fim uma última nota mais ou menos negativa: o uso excessivo de foda-ses e caralhos que se tornam inúteis e cansativos e surpreendentemente não há um único “caralha” que é uma das mais interessantes originalidades do vernáculo Micaelense. Tirando isso Rabo de Peixe é uma boa série da NetFlix com o correspondente ritmo pop publicitário ao melhor estilo vídeo MTV com bons actores e realização competente. Numa pequena nota pessoal, foi naquelas rochas do Pisão que passei alguns dos melhores momentos da minha infância e adolescência, foi ali que aprendi a nadar, a correr descalço sobre as pedras, que dei os primeiros beijos e onde também fui feliz como o Eduardo e a Sylvia. Veremos o que conseguem a seguir já sem o Arruda o que, como homónimo, acho mal…
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Isabel Gomes

Não consigo entender esta comparação com o Morangos com Açúcar. Devia ser explicada.
Pedro Arruda

Isabel Gomes têm a ver com a beleza física dos protagonistas, o ritmo pop da realização e a simplificação dos processos narrativos… 😉