PEDOFILIA

Só pode causar espanto e preocupação a leitura dos parágrafos iniciais da carta aberta do cardeal-patriarca de Lisboa a propósito do caso divulgado esta semana pelo jornal Observador (dois Cardeais-patriarcas de Lisboa terão silenciado queixa sobre alegado abuso sexual por um padre)
Espanto por se perceber que o Cardeal-patriarca acha que tem razão, preocupação porque defende o indefensável invocando que o caso foi tratado de acordo com as recomendações canónicas e civis da época, como se um crime de pedofilia em 1999 fosse diferente um do mesmo crime praticado em 2022!
Não são necessárias recomendações canónicas e civis para se perceber que a pedofilia e o abuso sexual de menores são crimes – que se tornam mais hediondos quando praticados por figuras do Clero – que devem ser denunciados à justiça. Seja em que ano for! Não pode haver contemplação para padres predadores sexuais de menores.
Mais à frente na sua carta aberta D. Manuel Clemente escreve esta frase espantosa : “aceito que este caso e outros do conhecimento público e que foram tratados no passado, não correspondem aos padrões e recomendações que hoje todos queremos ver implementados”.
Portanto, no passado a pedofilia sacerdotal não era punível à luz das “regras em vigor”, mas hoje já é. Isto faz algum sentido? Esta falsa humildade e estes atos de constrição forçada em nada contribuem para o enorme esforço que o Papa Francisco tem vindo a desenvolver no sentido de limpar o Clero dos monstros que nele habitam. Há uma certa Igreja que continua a preferir encobrir a verdade sob um manto de vícios privados, públicas virtudes.
O silêncio de décadas, que permitiu a perpetuação dos abusos sexuais, que muitos sabiam e quase todos calavam, representa o declínio moral da Igreja Católica e há medida que mais vítimas perdem o medo e denunciam os crimes de que foram alvo mais fragilizada fica a instituição.
O futuro da Igreja passa por banir os predadores sexuais, deixar a justiça atuar, pedir perdão e indemnizar as vítimas e as famílias destroçadas. Mas é necessário ir mais longe e discutir o que para o Vaticano é tabu: o fim do celibato, o casamento dos sacerdotes e uma profunda avaliação psicológica a todos os candidatos a entrar num seminário.
Para quem achar que os relatos dos media são exagerados sugiro a leitura do Relatório de Pensilvânia e perceberão a violência dos crimes sexuais que padres, bispos, cardeais, são capazes de cometer.
(Paulo Simões – 31.07.2022)
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