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Não conheço a senhora mas vejo aqui uma abordagem equilibrada como não consigo ver em mais lado nenhum.
Bergamo é o epicentro da doença porque é a zona industrial italiana com mais relações com a província de Hubei na China e durante todo o mês de janeiro o Governo Italiano, pressionado pelos patrões locais, não quis impor qualquer tipo de medida. A China tem centenas de casos desde 17 de Novembro e até 9 de Janeiro, para não ter quebras de negócios, não avisou nenhum país. Em ambos os casos os negócios falaram mais alto.
Os caixões levados pelo exército em Bergamo, onde de fato o número de mortos é alto para a média anual (mas não muito alto segundo o centro europeu de doenças), não representam o colapso destes serviços mas a obrigação de procedimentos muito lentos por ser uma doença contagiosa.
Até ontem coloquei como hipótese que a baixa taxa de mortalidade alemã tinha a ver com a entubação precoce dos doentes. Vários médicos, entre eles alemães, defendem porém que o erro chinês e italiano foi o excesso de ventilação, a maioria dos pacientes não devem ser tratados com este recurso, que, para eles, piora o quadro. Um facto em Portugal e noutros países desde cedo é que nesta doença há uma altíssima taxa de mortalidade das UCIs, segundo algumas revistas médicas, 70%, fora as sequelas. Isto é mais ou menos do que noutras pneumonias? idades? etc. Não tenho opinião alguma sobre nenhum destes dados, sublinho só que eles revelam o tão pouco que sabemos.
Graças ao pânico lançado “fique em casa!”, de TVs e megafones, em vez de explicar o que é isolamento social necessário, direitos e deveres, milhares de portugueses deixaram de ir às urgências em casos de AVC e outros agudos, podemos estar numa situação de aumento grave de mortes nestas doenças.
Todos os Governos foram notificados pela OMS dia 30 de Janeiro da pandemia que se aproximava e deviam tomar medidas.
O confinamento social só faz sentido antes do pico, não durante ou após. É assim? Em que situação estamos?
O jornalismo continua a focar-se nos números, embora hoje a única certeza em relação a eles é que não são verdadeiros. Testes em lares por municípios e em comunidades específicas em Portugal chegam a dar 50% e 80% de infectados, todos ou mais de metade assintomáticos.
Todos os dias morrem em Portugal cerca de 300 pessoas, grande parte mortes evitáveis, sobretudo entre os 40 e 60 anos (estou citar estudos nacionais) se mudarmos duas políticas – alimentação/salários/horários de trabalho e trânsito. Não desvalorizo a pandemia, pelo contrário, na dúvida façamos a protecção por excesso de cuidado, mas de que serve abrir noticias com número de mortos sem explicar o contexto? Não é puro terror para quem não tem noção da realidade?
Pacheco Pereira tem sido das vozes em Portugal mais contra as redes sociais, segundo ele, ninhos de fake news. Para mim um dos problemas mais graves de Portugal está nas redacções precárias e não nas redes sociais. Nas redes sociais há muitos boatos, mas há um espaço de liberdade critica que a precariedade do jornalismo não permite nas redacções, que nos brindam com um tipo de informação que não raras vezes é insuficiente, outras é fake, outras sensacionalista, não é só a CMTV, outras deixa de ser contra poder e passa a ser veículo de declarações das instituições. O caso da pandemia tens-nos arrastado para um jornalismo que abre com números que não existem, escuta governantes e oposição sem contraditório, assusta quem está em casa e não tem sentido crítico. As dúvidas são deixadas para notas de rodapé em boas entrevistas, as notícias estão cheias de certezas quando estas não existem, e medo, e mesmo terror, quando mais do que nunca era necessária educação, e calma.
(copiado de Raquel Varela)