O CHUMBO DA AUTONOMIA

As duas regiões autónomas de Portugal incomodam muita gente lá para as bandas da antiga capital do Império. Um Império que sempre foi centralista e centralizador. Um império que desde cedo gastou mais do que recolhia nos seus cofres; um Império endividado ao ponto das naus vindas da Ásia irem diretas para os portos ingleses onde despejavam as riquezas trazidas nos seus ventres para pagar as vaidades excessivas da Corte Imperial lusitana. Que perdoem os historiadores esta ligeireza histórica, certamente imprecisa. Os Açores pouco ou nada contavam, eram meros marcos territoriais na disputa entre reinos habituados a explorar países terceiros como fonte de rendimento. E enquanto os reis brincavam ao Risk, os açorianos passavam fome e viviam na miséria. Com o 25 de abril de 1974 nasceu a esperança de tempos melhores, do justo reconhecimento da importância dos Açores e dos açorianos para o engrandecimento do novo Portugal livre e democrático. Ledo engano. Depois do Império, depois dos ditadores, depois de Abril, vieram os centralistas de colarinho branco.
Portugal é um país pobre, endividado, com baixos índices de produtividade e incapaz de sair da zona pelintra da União Europeia. É este país com vícios, mas sem dinheiro, que olha guloso para o mar dos Açores, salivando com os rendimentos que antecipa colher.
E nós fazemos o quê? O que vão fazer os deputados do PS e do PSD eleitos por nós açorianos para defenderem o interesse da sua terra? Vão calar? Vão dizer umas palavrinhas mais ásperas, mas sem consequências de facto?
Ao chumbar a gestão partilhada do mar dos Açores, o Tribunal Constitucional está a chumbar a Autonomia e isso é de uma gravidade extrema que não pode passar sem resposta à altura.
Já não basta o que nos fizeram com a base das Lajes? Tal como no tempo das riquezas asiáticas na fase das Descobertas, a base das Lajes serviu para ajudar a pagar as contas da República enquanto a Região ficava com migalhas! Vamos deixar que o mar açoriano sirva para pagar o continuado despesismo dos sucessivos governos de Lisboa? De que lado estão os políticos açorianos? Procurar fazer do chumbo do TC uma luta entre partidos é fazer política de vão de escada. Os centralistas vestem cores variadas e movem-se por interesses nada partidários. Ou estamos juntos e sem agendas pessoais e partidárias ou iremos perder o que é nosso por direito e a viver em paz sujeitos.
(Paulo Simões – Açoriano Oriental de 17.07.2022)
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  • Antonio Manuel Macedo Silva

    Assino por baixo!!!
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    • 3 h
  • Orlando Freitas

    Vícios que alastram a oriente, na chamada autonomia centralista de uma só ilha….
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    • 2 h
  • Orlando Freitas

    Antes morrer livres que em paz sujeitos, asdim era angra do Heroísmo, antes da autonomia centralista….
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    • 2 h
  • Maria Das Neves Baptista

    Excelente! Exposição simples, escorreita, acessível a todos. Quanto aos historiadores, estão caladinhos e, assim continuando, por que mereceriam o nosso respeito, se não colocam o seu saber ao serviço dos Açores?!
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    • 12 m
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Eucaliptos e Alcochete: insensatez por décadas

Recuemos a Valpaços, 1989. Uma população decidida: “Oliveiras sim, eucaliptos não”. A maior propriedade da região, a Quinta do Ermeiro, passa para as mãos da Soporcel, que ali planta 200 hectares de eucaliptos. E a um domingo, 31 de Março, uma população rural enfrenta 200 GNR, muitos dos quais a cavalo, e avança para arrancar os “fósforos” (como lhe chamam), à mão, um a um. Esta história foi recontada em 2019 por Ricardo J. Rodrigues na revista deste jornal, a Notícias Magazine.

Source: Eucaliptos e Alcochete: insensatez por décadas

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