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Uma factura pesada
Levou tempo, mas a realidade é lixada.
Já lá vai um bom par de anos que muita gente mais atenta tinha sugerido ao Governo Regional que pedisse ajuda a Bruxelas para resolver o problema da SATA.
Invocando a nossa condição de arquipélago ultraperiférico, era possível tentar uma outra solução menos arriscada do que aquela que agora ocorre.
O Governo Regional, sobretudo neste último mandato, manteve-se autista e até negacionista relativamente ao desastre a que conduziu a nossa transportadora aérea, injectando capital sem dar cavaco a ninguém e até avalizando um empréstimo obrigacionista, que não deve ser do conhecimento (ainda) de Bruxelas.
Agora, com a crise da pandemia, pensava que se livrava do crivo da Comissão Europeia.
Habituados como estamos, nestas ilhas no meio do Atlântico, sem ninguém a fiscalizar-nos, sem escrutínio de espécie alguma, foi um tal delapidar os dinheiros públicos – o mesmo é dizer, o dinheiro dos nossos bolsos -, para transformar a SATA em joguete eleitoral (está sendo novamente nesta quadra, o que significa que não aprenderam), e em instrumento governamental para satisfazer clientelas e amigos.
Agora vem aí a factura.
E o mais ameaçador é que ela seja mais pesada do que se esperava, porque Bruxelas não brinca em serviço, não esconde contas e documentos, nem faz estatísticas manipuladas como se fazem nestas ilhas.
Não admira que até já se neguem as estatísticas nacionais, quando elas não dão jeito, para dizer que somos menos pobres do que as estatísticas dizem, e até temos baixas de desemprego em plena pandemia…
“Milagres” destes só são possíveis quando os políticos sabem que alimentaram na população, durante anos, uma cultura de pobreza, ao ponto de acreditar em tudo o que diz o poder: o poder do dinheiro, o poder do subsídio.
Com Bruxelas a música é outra.
(Osvaldo Cabral – Diário dos Açores de 30/08/2020)
