OSVALDO CABRAL NEGLIGÊNCIA E DESINFORMAÇÃO

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Negligência e desinformação

Quando a negligência dos poderes públicos e a desinformação que circula na esfera pública se juntam, temos uma combinação explosiva para o alarmismo.
Foi o que aconteceu com esta história do avião privado que aterrou no fim de semana em Ponta Delgada.
Bastou uma informação a circular nas redes sociais, que se tornou viral, para, a partir daí, se gerar uma série de especulações e desinformação.
Às tantas já se dizia que havia um passageiro de Wuhan, que tinha febre, que estava contaminado e que alguns tinham embarcado na SATA para Lisboa.
Perante o alarme social que se gerou, o governo regional emitiu uma nota, através da autoridade de saúde pública, muito mal redigida e que adensou ainda mais as dúvidas devido à data em que os passageiros já viajavam, que não coincidia com a data de saída do avião de Hong Kong.
Já ontem as autoridades sanitárias viram-se obrigadas a emitir mais um comunicado, desta vez muito mais explícito e esclarecendo as dúvidas anteriores.
A negligência na informação clara foi fatal, porque nos dois dias anteriores as autoridades de saúde e o governo já tinham sido crucificados na esfera pública.
Este é um bom exemplo de como se tem de lidar com informação sensível.
Não há outra forma: há que ser mais transparente, claro e rápido nas respostas a todas as dúvidas, sem qualquer espaço para o alarmismo.
Situações como estas vão acontecer nos próximos tempos, como, aliás, se assistiu ontem com a chegada de um navio de cruzeiros.
Alguns passageiros, que se sentiram mal, foram assistidos no Hospital de Ponta Delgada e chegaram de máscara.
Imaginem o que se ouviu…
As autoridades têm de ser mais rápidas no esclarecimento e na informação a transmitir ao público, sem esconder nada e sem criar ainda mais dúvidas. E dar o rosto para humanizar a mensagem, em vez de se esconderem em papéis.
Já todos percebemos que a porta de entrada de gente do exterior, nas nossas ilhas, é bastante vulnerável e passa muito a ideia de que não estamos preparados para responder a casos como o coronavírus.
A desconfiança é o pior que se pode gerar na sociedade. É o principal motor para o alarmismo social.
E é aqui que entra o papel, importantíssimo, da comunicação social, a única que poderá combater a imensa desinformação que circula nas redes.
Negligenciar isso é outro erro.

(Osvaldo Cabral – Diário dos Açores de 04/02/2020)

— with Osvaldo José Vieira Cabral.

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