OSVALDO CABRAL

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Mais um debate sobre o Plano e Orçamento – desta vez sob ameaças fugazes – e mais um tormento assistir à pobreza franciscana de ideias, num parlamento cada vez mais vazio de deputados talentosos.
Discursos sem nexo, intervenções recheadas de acusações e ódios, apartes rancorosos, enfim, tempos perdidos e enredados em discussões sem o mínimo de interesse para o ser comum.
Como aqui escrevi esta semana, o nosso parlamento é o espelho da sociedade que estamos a formar nas últimas décadas: uma região de gente precária, desqualificada e de fuga de talentos.
O essencial do debate parlamentar nem estava naqueles dois documentos, que já todos percebemos serem elaborados para agradar aos equilíbrios desta coligação periclitante, mas sim noutro documento, divulgado no último dia do debate, pelo Tribunal de Contas, onde se arrasam as finanças públicas e a nossa caminhada para o abismo.
Era isto que deviam ter discutido: como vamos sobreviver com uma estratégia ruinosa, de há vários anos, que aumenta desmesuradamente a despesa pública, deixando os cofres vazios para investimento e criação de riqueza e uma mão cheia de dívidas para os nossos filhos e netos pagarem.
É disto que depende o futuro e o sucesso da Autonomia e das nossas gentes.
Ao tempo que vimos alertando para o buraco que nos estão a enfiar, deixando uma herança irresponsável às futuras gerações.
Como muito bem alertou, também, o Doutor Arnaldo Ourique, no seu livro “As ideias de Autonomia”, a essencialidade da Autonomia “está nas pessoas, nos insulares, na sua qualidade de vida, na esperança de que do dia de hoje possamos projetar para amanhã uma vida de melhor. Por isso, a essencialidade da Autonomia, enquanto sistema autonómico e político, está na necessidade imperativa de dar prioridade e solução ao paupérrimo sistema de governo regional e criar condições para promover a cientificação da Autonomia. Sem estes dois elementos à proa de qualquer reforma da Autonomia é muito evidente que vamos continuar com uma democracia pobre – que, naturalmente, tem como corolário um fraco desenvolvimento do progresso da sociedade – e continuar com saber precário do que afinal permite a governação dos açorianos pelos próprios açorianos, a Autonomia Constitucional”.
Esta Autonomia está ligada às máquinas e o futuro, com gente sem ideias e talento, é mesmo bastante sombrio.
Como ficou mais uma vez provado nestes últimos dias.
Portugueses de segunda
Escreve-nos um amigo e leitor micaelense, que se encontra no Continente, possuidor do cartão de antigo combatente, que dá benefícios nos autocarros e metro.
Ao mostrar o cartão, teve como resposta a desilusão: “Não pode usufruir deste direito porque não é residente no Continente”!
O mesmo “residente” que serviu, em nome do país, para combater no antigo Ultramar.
É a pobreza do país que temos e dos tais legisladores desqualificados.
(Osvaldo Cabral – Diário dos Açores de 28/11/2021)
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