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Depois de um rodapé muito infeliz da TVI – que deve um pedido público de desculpas a Portugal e ao Norte – os números baseados em factos de um bom e sustentado artigo de opinião.
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Aquilo que à vista desarmada parece um título ingénuo revela-se, à luz dos dados e da ciência, tanto mentira quanto calunioso.
A TVI decidiu, na edição do jornal da Noite, escrever sobre a relação direta entre a população “mais pobre, envelhecida e menos educada” do país e o número de casos existentes na região Norte.
Como se já não fosse moralmente repugnável estabelecer paralelismo entre a falta de escolaridade, a pobreza (de capital, não do resto) e a idade da população com o fenómeno de propagação de um vírus, a TVI decidiu ignorar os dados e recorrer à mentira para explicar o número de casos infetados com COVID-19 a norte do Mondego.
Felizmente, uma investigação rápida permite apurar a veracidade dos argumentos utilizados.
1) A região Norte é a menos educada do país? Mentira. É a região com maior número de pessoas alfabetizadas em número absoluto – fruto de ser a região com mais pessoas no país -, com uma taxa de analfabetismo de 5% (inferior a quase todas as regiões do país, excepto a área metropolitana de Lisboa e a região autónoma dos Açores).
2) A região Norte é a mais envelhecida do país?
Mentira. O seu índice de longevidade é inferior às regiões Centro, Alentejo e Algarve.
3) A região Norte é a mais pobre do país?
Mentira. Embora a diferença seja abismal para a área metropolitana de Lisboa (à imagem da comparação de todo o país com a área da capital), o poder de compra do Norte é apenas ultrapassado por esta e pela região do Algarve.
4) É no Norte que se encontra a população mais concentrada em lares?
Mentira. A região tem o índice mais baixo de dependência de idosos de Portugal continental.
Como se tudo isto não bastasse, a conclusão deveria ser exatamente a oposta. Fosse a região Norte tudo isto e muito mais, mereceria do Estado uma resposta ainda mais forte no combate ao vírus e uma solidariedade ainda mais presente. Mereceria não apenas mais testes, mais ventiladores e mais cuidados, mas também mais respeito.
Não é possível apregoar solidariedade entre países quando ela não existe entre regiões. O pior analfabetismo não é o de quem não teve hipótese de frequentar a escola – é de quem, por más intenções, renega tudo o que aprendeu para prosseguir uma agenda ignóbil e desrespeitosa.