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Moatize – Moçambique – Natal de 1968.
O Postal do Movimento Nacional Feminino. Natal 1968.
Este meu apontamento é longo….muito longo. Penso que muitos não terão a paciência de o ler até ao fim….mas este foi o nosso Natal de 1968, o qual muito provavelmente será igual a milhares de outros. Ainda hoje, não é sem lágrimas que o recordo.
O postal do Movimento Nacional Feminino, referente ao ano de 1968, foi a gota de água que fez transbordar a ira do Nelson. Andou o dia todo com o postal na mão, repetia vezes sem conta – Isto não se faz, isto não se faz a ninguém. Com quem é que estas senhoras pensam que estão a falar?
– Cala-te, Nelson. ou ainda arranjas problemas. Só tu é que ficaste “apanhado” por estas merdas, mais ninguém ligou ou deu importância à merda do postal.
Depois do jantar e já na caserna, o Nelson…de pé em cima da cama….leu-nos o famoso postal.
” Soldados de Portugal. Mais um Natal que chega e com ele uma maior saudade se instalará nos vossos corações. E porque conhecemos o vosso sentir, estamos ao vosso lado compartilhando com todos a solidão do momento presente. que é mais dura de suportar. Sabemos que a vossa tristeza é grande porque muito custa a separação, mas mais seria se Jesus Menino não renascesse todos os anos nos presépios das várias parcelas do nosso mundo. É o vosso sacrifício que permite a continuação do Natal dos portugueses. Obrigado rapazes! Que Deus vos dê coragem para prosseguir e vos traga em breve para junto da vossa gente. São estes os votos do MNF no Natal de 1968 – Por Deus e pela Pátria.
O Nelson terminou a leitura. Percorreu com o olhar toda a caserna, ninguém falava, alguns tinham a cabeça baixa, olhavam para o chão.. O Nelson continuava de pé, pôs a garrafa da cerveja à boca e solveu mais um pouco da cerveja Manica. Tinha um olhar triunfador, tinha acertado em cheio, mas ainda não tinha acabado.
– Recebeste o postal Grândola? – Silêncio, o Grândola continuava a olhar para as cartas que tinha nas mãos, tinha o ás e a dama de trunfo.
– Então, recebeste ou não este modelo de patriotismo em forma de postal? Pois eu fiquei a saber que viemos para Moçambique para defender o Menino Jesus.
Aos poucos a caserna ia-se enchendo com a malta dos outros pelotões. Mais uma vez a lotação estava esgotada, a noite prometia.
O Grândola ficou a pensar no seu Natal. este seria o segundo passado em terras moçambicanas. Estavam em Moatize, o primeiro Natal tinha sido passado em Nangade, lá bem no norte, em Cabo Delgado. Para ele o Natal só fazia sentido junto dos seus, e os seus não eram aqueles que tinha naquele momento à sua frente. O verdadeiro Natal, era no seu Alentejo, o frio,a lareira, a missa do Galo, os pais, os avós e a planície alentejana. Levantou-se, afastou-se com a tristeza estampada no rosto….e chorou.
Se as senhoras do Movimento Nacional Feminino soubessem o que lhe ia na alma.
Na noite de Natal tivemos bacalhau com batatas, bebemos, cantamos, rimos e esquecemos os ausentes. Nós só tínhamos vinte anos.
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