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O MORCEGO (ENDÉMICO) DOS AÇORES

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“Hoje, a genética comprova que o morcego dos Açores (Nyctalus azoreum) terá provavelmente chegado às ilhas há mais de 50 mil anos e que a colonização terá sido um evento único..”
São factos como este, que nos devem levar a preservar muitos locais e, a termos muito cuidado com a utilização intensiva de muitos locais. Quer seja por esta espécie, quer seja pelas nossas particularidades, únicas, da nossa flora, endémica, e fauna.
NATIONALGEOGRAPHIC.PT
Uma improbabilidade da evolução: O morcego dos Açores

Uma improbabilidade da evolução: O morcego dos Açores

Antes da chegada dos humanos ao arquipélago, existiam ali apenas duas espécies de mamíferos terrestres – uma delas a protagonista desta história. Saiba como alcançaram os morcegos os Açores e porque prosperaram.

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Nyctalus 1
PAULO HENRIQUE SILVA

As ilhas e outros locais geográficos isolados como oásis ou montanhas encerram um paradoxo: o seu isolamento torna-os difíceis de colonizar, mas os animais que lá conseguem chegar pelos seus meios ou à boleia de um tronco à deriva ou de outra improvável ocorrência encontram um caminho alternativo de evolução: se conseguirem sobreviver e se tiverem oportunidade de se reproduzir, ao fim de muitas gerações terão divergido por pressão selectiva do novo ambiente da espécie continental que lhes deu origem.

A contradição radica no facto de que, por esses motivos, tendem a existir menos espécies nestes contextos do que em vastas massas continentais, mas mais exclusivas. No seu conjunto, as ilhas são reservatórios de biodiversidade, mas, no caso de ilhas perdidas no meio do oceano, há naturalmente grupos de animais para os quais o desafio da colonização é redobrado.
Antes da chegada dos humanos ao arquipélago, existiam naquelas ilhas apenas duas espécies de mamíferos terrestres: o protagonista desta história, que não existe em mais nenhum lugar do planeta, e outro morcego cuja taxonomia permanece pouco clara. Os morcegos são um grupo fascinante de mamíferos que adquiriram a capacidade de voo, mas que dificilmente empreendem viagens de 1.500 quilómetros mar adentro.

Hoje, a genética comprova que o morcego dos Açores (Nyctalus azoreum) terá provavelmente chegado às ilhas há mais de 50 mil anos e que a colonização terá sido um evento único. A espécie descende de uma congénere continental, Nyctalus leisleri (morcego-arborícola-pequeno) mas apresenta diferenças morfológicas e comportamentais assinaláveis. Uma das mais óbvias é o facto de, em comparação com os congéneres continentais, ser activo e visível durante o dia.

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A espécie é insectívora e pode consumir num dia o equivalente ao seu peso em insectos, desempenhando um auxílio precioso no controlo de potenciais pragas. Repousam e reproduzem-se em colónias que se instalam em cavidades das árvores ou de edifícios e em fendas nas rochas e falésias. A sua pequena dimensão (pesam cerca de 15 gramas) é uma ode ao engenho e perseverança da natureza que encontra caminho na adversidade para se estabelecer onde surge uma oportunidade.

Calcula-se que existam no conjunto de todas as ilhas dos grupos Central e Oriental cerca de dois mil a cinco mil indivíduos, o que faz desta uma espécie rara e considerada vulnerável ainda que seja relativamente fácil de observar.