o discurso que nunca cheguei a ouvir, CRÓNICA 117-30 JUNHO 2012

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PORTUGUESES, portuguesas e outros géneros, CRÓNICA 117-30 JUNHO 2012

 

Este foi o discurso que nunca cheguei a ouvir, mas imaginei:

“Portugueses, portuguesas, É mentira que o Governo esteja a preparar novos impostos, subidas de preços e cortes nos benefícios de empregados e desempregados, reformados ou no ativo.

Nunca foi intenção do Governo aumentar a pobreza, o desemprego, a fome no país, mas herdámos a pesada herança do Governo anterior que vai demorar gerações a pagar e temos que satisfazer os compromissos bancários internacionais assumidos por anteriores governos.

Nunca foi nossa intenção dar dinheiro à Banca que causou esta crise, mas somos obrigados por contratos anteriormente firmados e que bloqueiam qualquer hipótese de renegociação, motivo pelo qual fomos cancelando benefícios aos funcionários, que infelizmente terão de suportar as reformas estruturais que pretendemos implementar no país e que resultam obviamente do que foi negociado no passado por anteriores governos e que impõe esta necessidade de trazer sanidade às contas públicas.

Teremos de vender os anéis para que sobrem os dedos e mesmo assim não temos garantia de que seja suficiente. Destarte vendemos a energia da EDP, a distribuição da REN, negociamos as águas, a TAP, os aeroportos e outras infraestruturas, muito mais rentáveis se forem os estrangeiros a geri-las porque francamente o Estado não tem capacidade para gerir tão variados bens. Ficam ainda Torre de Belém (e os pastéis), as Pontes sobre o Tejo, os Jerónimos e o Castelo de São Jorge que são atrações turísticas que temos de preservar.

As portagens nas estradas SCUT visam aumentar a utilização pelos turistas que aqui vêm deixar divisas e reduzir o tráfego e viaturas portuguesas, o que permitirá aos turistas andar mais livre e desafogadamente a fim de que regressem aos seus países com melhor impressão de Portugal.

Ao enviarmos os jovens licenciados e desempregados para outros países estamos a exportar os conhecimentos que fizeram dos portugueses um povo de navegantes e descobridores, e estamos convictos de que também virão a descobrir novos mundos e formas de vida, permitindo aumentar a importância dos portugueses nessas sociedades de acolhimento e obterem posições de relevo tão importantes para o orgulho nacional.

Temos tomado inúmeras outras medidas como o encerramento de hospitais, maternidades, centros de saúde, tribunais e outros serviços cuja produtividade era baixa e custavam imenso a manter, pois estudos recentes provam que algumas das medidas tomadas pelo Governo antes de 1974 eram bem mais económicas que as atuais e conduziram o país a uma riqueza em barras de ouro de que só resta a memória hoje. Estamos convencidos de que com todas estas alterações estruturais estaremos a criar sólidas bases para a riqueza futura de Portugal.

Pretendemos – em breve – expropriar os terrenos agrícolas não-cultivados e entregá-los a estrangeiros para que com as suas técnicas mais evoluídas possam obter uma produção que nos permita voltar aos tempos dos celeiros da nação. Sabendo-se como é exígua a oportunidade de emprego no interior, estaremos a contribuir para a redução do desemprego local. Além das reduções dos elementos autárquicos base, as freguesias, criaremos uma nova divisão do país que não fora tentada desde Mouzinho e que permitirá reduzir os bairrismos que tanto têm servido para dividir o país em pequenas parcelas em vez de o aglutinar. Estamos cientes de que a situação geral do país irá melhorar com todas estas medidas e em breve nos orgulharemos de ser um país que todos invejam.”

Infelizmente jamais ouviremos esse discurso e sabemos que mal um hospital fecha, logo aparece um grupo privado a construir outro. Claro que quem vive no Bronx não pode ter a mesma qualidade de vida dos que vivem em Manhattan (não sei se me entendem), i.e. em termos indianos há uma zona de sudras e vaixias onde poucos se deslocam.