Views: 0
esta e outras em https://www.lusofonias.net/mais/as-ana-chronicas-acorianas.html
CRÓNICA 285 DA MOBILIDADE E INSULARIDADE AÇÓRICAS 6.9.19
Diz o primeiro-ministro, e eu não tenho razões para duvidar, que o custo do subsídio de mobilidade das ilhas é incomportável. Acredito que possa ser para quem vive lá para os lados da capital do antigo Império, mas para quem não teve escolha e aqui nasceu, ou para quem, como eu, aqui vive há quinze anos, ele só peca por ser reduzido.
Sem esse subsídio de mobilidade estaríamos todos mais presos do que já estamos a estas ilhas por razões de distância, de clima, de falta de alternativa de transporte marítimo. Os alunos que aqui não têm cursos deixariam de poder frequentar as universidades e politécnicos da Península Ibérica (contribuindo assim para o crescimento da economia), eu ficaria impossibilitado de ali realizar anualmente um dos dois colóquios da lusofonia, deixaria de poder visitar as restantes ilhas (são 9 senhor primeiro) e teria de ficar confinado à ilha onde vivo.
É que sabe, senhor primeiro, aí meto-me na viatura e desde que tenha dinheiro para portagens e combustíveis desloco-me onde quero, não só na Península mas pela Europa, Ásia, etc.….aqui não temos pontes, nem túneis nem autoestradas a ligar as nove ilhas, e se deixássemos o livre mercado da aviação funcionar os preços seriam os antigos entre 500 e 700€ para uma deslocação à velha Ibéria…
Além disso, deve ter-se esquecido que os nossos impostos pagaram e pagam as autoestradas, pontes, passes sociais e tanta outra coisa de que os aí residem podem beneficiar e nós não…por isso, venha cá viver uns tempos, de preferência no Corvo e nas Flores nos meses de inverno e depois falamos.
Falar é fácil mas por vezes é necessário ter conhecimento de causa e de vivências, e a da insularidade faz-lhe falta, como a mim me fazia antes de aqui viver e pensar que estas ilhas eram um desperdício de dinheiro. Houve até um colega político de outra cor partidária que afirmou em tempos (não encontro essa citação aqui e agora) de que ficava mais barato transladar os habitantes (cerca de 430) do Corvo do que mantê-los lá. Eu, pessoalmente também creio que ficava mais barato transladar os habitantes de Lisboa do que mantê-los lá, mas é só uma opinião pessoal de alguém que nasceu no norte… com o dinheiro que Lisboa gasta fazia-se um país decente e mais equitativo, sempre achei incomportável o custo de manter Lisboa e com as vias rápidas e ferroviárias que têm sempre podiam ir para qualquer outro sítio, nós aqui – infelizmente – não podemos.
Enquanto na Península se pode ir até ao lado de lá da fronteira e comprar gás ou meter gasolina mais barata, nós aqui pagamos e calamos, e nem sequer temos a gasolina mais barata dos hipermercados como aí…
De facto, senhor primeiro, acho que deviam dar-nos muito mais de subsídio de mobilidade por aquilo que perdemos e não está ao nosso alcance e para si é trivial quotidiano. Acredite que eu sei do que falo, pois já vivi nos dois sítios e sei fazer contas e constatar as diferenças. Se acordar com nevoeiro na Portela pode meter-se na viatura e ir a qualquer lado, aqui se eu acordar com ventos, nevoeiros ou os habituais temporais insulares nem a nado posso ir a lado nenhum, há quem diga que as ilhas podem ser uma prisão sem grades e já o senti, algumas vezes, mesmo sem viver no Corvo e Flores que mais tempestades apanham. E entre ilhas temos uns barquitos velhos, alugados a preço de ouro, de maio a setembro mas no resto do ano dependemos da perícia dos pilotos da SATA para aterra em sítios onde a maioria dos pilotos tinha medo e voltava para trás…
Diz o primeiro-ministro, e eu não tenho razões para duvidar, que o custo do subsídio de mobilidade das ilhas é incomportável, eu concordo, é incomportavelmente baixo para as necessidades dos que aqui vivem, quando as comparo com os preços de viagens de barco e de avião entre as ilhas das Canárias… como os espanhóis querem as Desertas talvez se lhe oferecêssemos os Açores eles conseguissem voos mais baratos (ah! Já me esquecia que depois Portugal perdia milhares de quilómetros de fronteira marítima e suas riquezas, estou certo que destas, se retirarmos uns tostões pagamos todos os subsídios de mobilidade, presentes e futuros.