o comunista Belmiro de Azevedo SINDICALISTA UDP

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BANQUEIROS, crónica 14, 7 março 2006

Sempre escrevi que os portugueses eram bons a trabalhar no estrangeiro, por não terem condições cá. Sei que mais de 80% dos empresários têm menos que o 9º ano de escolaridade e mais de 70% dos trabalhadores pouco mais do que a antiga quarta classe. Isso explica muita coisa. Nem todos tiveram a sorte do Belmiro de Azevedo que aparentemente se acoplou com o que pode e à sua guarda, embora pertencesse ao banqueiro Pinto de Magalhães. Não admira que fosse um dos 500 mais ricos do mundo. Se eu tivesse tido um empurrão inicial daqueles quem sabe onde estaria?

Abro um aparte sobre a sua fortuna inicial: “Como o Belmiro começou a enriquecer…nadava nas águas da UDP…

Quando, em 14 de março de 1975, o governo de Vasco Gonçalves nacionalizou a banca com o apoio de todos os partidos que nele participavam (PS, PPD e PCP), todo o património dos bancos passou a propriedade pública. O Banco Pinto de Magalhães (BPM) detinha a SONAE, a única produtora de termolaminados, material muito usado na indústria de móveis e como revestimento na construção civil. Dada a sua posição monopolista, a SONAE constituía a verdadeira tesouraria do BPM, pois as encomendas eram pagas a pronto e, por vezes, entregues 60, 90 e até 180 dias depois.

Belmiro de Azevedo trabalhava lá como agente técnico (engenheiro técnico) e, nessa altura, vogava nas águas da UDP. Em plenário, pôs os trabalhadores em greve com a reclamação de a propriedade da empresa reverter a favor destes. A União dos Sindicatos do Porto e a Comissão Sindical do BPM (ainda não havia CT na banca) procuraram intervir junto dos trabalhadores alertando-os para a situação política delicada e a necessidade de garantir o fornecimento dos termolaminados às atividades produtoras. Eram recebidas por Belmiro que se intitulava “chefe da comissão de trabalhadores”, mas a greve só parou mais de uma semana depois quando o governo tomou a decisão de distribuir as ações da SONAE aos trabalhadores proporcionalmente à antiguidade de cada um.

É fácil imaginar o panorama. A bolsa estava encerrada e o pessoal da SONAE detinha uns papéis que, de tão feios, não serviam sequer para forrar as paredes de casa. Meses depois, aparece um salvador na figura do chefe da CT que se dispõe a trocar por dinheiro aqueles horrorosos papéis. Assim se torna dono da SONAE. E leva a mesma técnica de tesouraria para a rede de supermercados Continente depois criada onde recebe a pronto e paga a 90, 120 e 180 dias. Há meia dúzia de anos, no edifício da Alfândega do Porto, tive oportunidade de intervir num daqueles debates promovidos pelo Rui Rio com antigos primeiros-ministros e fiz este relato. Vasco Gonçalves não tinha ideia desta decisão do seu governo, mas não a refutou, claro. Com o salão pleno de gente e de jornalistas, nenhum órgão da comunicação social noticiou a minha intervenção. Este relato foi feito por colegas do então BPM, entre eles um membro da comissão sindical (Manuel Pires Duque) que por várias vezes se deslocou à SONAE para falar aos trabalhadores. Enviei-o para os jornais e, salvo o extinto “Tal & Qual”, nenhum o publicou. Gaspar Martins, bancário reformado, ex-deputado.”

 

Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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