NÓMADAS DIGITAIS ABANDONAM LISBOA

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« (…) Os nómadas digitais chegaram à conclusão de que Lisboa é uma cidade demasiado cara. Pelo menos, é o que afirma Gonçalo Hall, criador da Digital Nomad Association, uma benemérita instituição de caridade para nómadas digitais desfavorecidos (acredito eu). “O aumento do custo de vida e excesso de turistas em Lisboa levou ao grande aumento dos preços e a cidade deixou de ser um destino atrativo para os nómadas”, suspira Gonçalo.
A julgar pelas prioridades políticas que conduziram a esta situação, é provável que já esteja em marcha um programa de habitação social para nómadas digitais. Um condomínio de luxo a preços acessíveis no meio de Chelas chamado Marvillage, ou assim.
Portanto, depois de uma década em que se inviabilizou que os locais habitassem a cidade para abrir espaço para os entusiastas de chinelos com meias e os bebedores de matcha latte, são eles que se vão embora. Não é que nos estejam a ensinar nada. Nós começámos a fugir de Lisboa antes de fugir de Lisboa ser fixe. Por outro lado, batemos no fundo. Uma coisa é os portugueses pobres emigrarem em busca de uma vida melhor; outra é os imigrantes ricos emigrarem em busca de uma vida melhor.
Mais humilhante ainda é ler as críticas dos nómadas digitais a Lisboa, disponíveis neste site da especialidade. Segundo alguns desalentados, Lisboa “está cheia de turistas” e “quase não se vê portugueses”, que “têm pouco dinheiro”. Tem “casas muito caras”, para além de ser afetada por um “sol muito forte”. Mais, “não há muitas mulheres” e “a única coisa vantajosa é a ausência de impostos”. Foi isto que decidimos ser quando escolhemos o caminho da economia de serviços com baixos salários: o destino favorito das Karens.
Um nómada digital queixar-se dos preços em Lisboa é como um golden retriever queixar-se de que o carro de família está cheio de areia. Certo, haverá outros responsáveis, mas tudo indica que sejas tu o principal culpado. No fundo, o gentrificador foi gentrificado — por isso, decidiu ir gentrificar para outro lado.
Note-se que os nómadas não estão a abandonar o país em massa, simplesmente Lisboa está demasiado cara até para eles. Segundo o tal Nomadlist, a moda agora é a Ericeira. Quando a Ericeira ficar demasiado cara, gentrifica-se a Charneca da Caparica. Quando a Charneca da Caparica ficar demasiado cara, gentrifica-se o Samouco. Primeiro, foram os bairros. Agora, cidades. Só se tomarão medidas quando for impossível arrendar um estúdio por menos de 1800 euros em Rabo de Peixe. (…)»
EXPRESSO.PT
Nómadas digi-tchau, até à próxima
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