Não sei regressar aos Açores. Não sei o caminho.

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É nos meus sonhos açorianos que estás a pisar
Não sei regressar aos Açores. Não sei o caminho.
E cada ano que passa, no Natal, ainda é pior. Regressar? Para quem? Como? Para quê? Ainda estarão à minha espera?
No entanto tenho esperança.
No regresso. A canção do emigrante açoriano.
Para me salvar? Mas já não vou a tempo de quase nada.
Já fiz tudo o que queria na vida(amei e fui amado), construí, destruí, fui abandonado e abandonei. Resta muito pouco. Já nem sei odiar.
E nos Açores que me lembro, “aprendia-se” o ódio sem reservas. Como defesa para sobreviver. As paisagens enganam.
Também não encontro a definição de açoriano. Não sei o que é.
E digo ser açoriano todos os dias.
Uma ficção, provavelmente.
Hoje, por exemplo, na ilha de Salt Spring, no Pacífico Noroeste(ilha também de emigrantes do Pico e de Santa Maria)disse, ao pequeno-almoço, que também sou de umas ilhas paradisíacas. Ninguém bateu palmas. Nem uma condecoração. A banalidade da origem. Não faltam ilhas no Oceano Pacífico.
Não sei regressar aos Açores pelo que procuro as minhas ilhas onde me deixam. Hoje foi em Salt Spring. Amanhã em outra ilha qualquer.
Não tenho, ainda, na intimidade, nenhuma tradição da “açorianidade moderna”.
O que será?
Não sou religioso em público, não gosto dos governos dos Açores, não gosto de quem me fez mal. Vivo do meu trabalho. Acho que finalmente sou feliz(uma ofensa regional). Já morri tantas vezes que perdi o medo.
Nem tenho fotografias da lagoa das Sete Cidades em casa. A Raquel diz que é uma lagoa banal, triste até, mas ela cresceu com o lago Moraine, em Banff, Alberta, no Canadá. Não se pode comparar.
E tenho de escrever sobre os açorianos que vivem perto do lago Moraine.
E por causa da pandemia já não vou para a passagem de ano em Banff(não gosto de festas pelo que foi quase uma alegria).
Irei escrever sobre o plástico que cobria os sofás da sala de estar das minhas primas de Fall River. Para me lembrar dos Açores.
O lago Moraine é mais bonito.
Nasci em São Miguel, é verdade, mas só regressei à ilha para me desiludir. E tenho de escreve sempre que sou moralmente da ilha mãe de Santa Maria.
A ilha nunca me falhou no desespero. Na vontade de me ir embora.
Deixei a ilha para os outros.
Tinha o sonho de uns Açores diferentes. Também com as “aves friorentas” que escreveu Natália Correia.
E por falar em poemas, o senhor Yeats bem avisou para se ter cuidado ao pisar nos sonhos. O meu ainda é nos Açores.
Foto: busca Google. Lago Moraine, Banff, Alberta, Canadá. Zizka. Site do turismo de Banff.
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