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Uma notícia triste.

Dos maiores defensores da Língua Portuguesa. Fernando Venâncio descansará certamente em paz mas é uma grande tristeza




Fernando Venâncio
(18 de Novembro de 1944 – 30 de Maio de 2025)
A 1 de Junho de 2015 chegou-me, de Amsterdão, um texto. Por esse texto, conheci pela primeira vez Fernando Venâncio. Era o prefácio a um livro de Helder Guégués, «Em Português Se Faz Favor», que então publiquei. Depois, um avião trouxe de Amsterdão o Fernando para apresentar um dos primeiros livros que Marco Neves editou com a Guerra e Paz. Entre Neves e Venâncio, entre o Marco e o Fernando, digo, havia uma afinidade intelectual de grande bonomia, uma afinidade expansiva que envolvia mesmo as famílias. Com essa sorte com que os meus deuses africanos, isto é, Kalunga, sempre me acarinham, o Marco e o Fernando adoptaram-me. E, num almoço que fomos fazer a Évora, aconteceu o milagre: o Fernando aceitou ser meu autor. Como uma Santíssima Trindade – terei sido eu o Espírito Santo? – dos mil livros que o Fernando poderia fazer, escolhemos o que viria a ser o «Assim Nasceu uma Língua», prodigiosa digressão pelas origens da nossa língua. O livro conquistou Portugal, seduziu os nossos vizinhos galegos, bem como gerou controvérsia no Brasil.
Vivi com o Fernando a aventura de ver o livro publicado nesses países, o que posso hoje evocar aqui. Há, porém, coisas que transcendem as pequenas glórias editoriais. A amizade autêntica, a extrema confiança, a empatia em circuito aberto, eis o que o Fernando e eu partilhámos, coisas intraduzíveis nesta crónica em que tenho de anunciar a morte de Fernando Venâncio.
Não voltarei a ouvir-lhe a voz cheia de entusiasmo, o riso, o tão bom humor, o seu gosto por uma piada mais ácida aos pequenos disparates do mundo ou ao grande circo da pretensão, pompa e circunstância. Dois grandes livros sobre a língua portuguesa e o seu possível futuro – «Assim Nasceu uma Língua» e «O Português à Descoberta do Brasileiro» – impõe-no como linguista, belíssimo legado que nos deixa. Mas é num romance, que publiquei este ano, «Os Esquemas de Fradique», que vos convido a virem tomar um café com o Fernando. Macacos me mordam se não descobrirem ali paixões doidas – «sabem tão bem!» – um cientista gatuno («gatuno, mas um tipo porreiro») e muito whisky divino. Sirvam-se e não se poupem no whisky. Pode ser que toque, súbito, o telemóvel. E se ouvirem um «Então, já leram?» é o Fernando que está a falar convosco.
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FERNANDO VENÂNCIO
Morreu um grande amigo — e o grande especialista em língua portuguesa. Não sei o que dizer mais neste momento. Fica a saudade — e fica também um livro (entre muitos outros) que ainda será lido daqui a muitas décadas: Assim Nasceu Uma Língua. Leio os primeiros parágrafos e volto a ouvir a voz do Fernando.

Morreu Fernando Venâncio. Fui editor da tese de doutoramento dele, pelas Edições Cosmos, onde estava num limbo, e falámos depois de temas comuns. Chateou-se comigo por causa dum artigo que escrevi sobre uma maluquice torpe de Arnaldo Saraiva contra Vitorino Nemésio. Depois disso, por uma ou duas vezes, na BNP, fingiu que não me viu, evitando reacender essa divergência. Lamento a sua morte e de bom grado iria, se pudesse, ao seu funeral em Mértola, terra que me diz muito. Não o conheci bem, nem nada sei da sua vida pessoal. Mas foi homem de valor e devemos inclinarmos respeitosamente numa hora destas, que ninguém quer mas a todos espera.
Letras Lavadas
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