Views: 0
Francisco Madruga
40 mins · Vila Nova de Gaia ·
O Ti Davim
Era para todos, ou quase todos, o Ti Davim ou Ti Manel.
Era a pessoa e era o sítio. O Café do Davim, o Restaurante e a Pensão.
Passou pelas Eiras e estabeleceu-se nas novas avenidas.
Era tudo em grande.
O café, o restaurante e a pensão.
Maior que tudo era a sua amizade e simpatia.
O Café era centro de convívio. Aqui se tomava café, discutiam ideias, lia-se o jornal e jogavam-se damas.
Aqui, neste lugar, cabiam todos!
Entrava-se pelo café a dentro, passava-se pelo restaurante e dávamos de caras com a grande cozinha.
Entrava-se e ia-se anunciando a chegada.
– Ti Manel, Ti Manel!
– Entre, entre coma aqui connosco.
– Já almocei.
– Então a sua mãe? Já estou com saudades dela. Traga-a cá!
– Vamos ver, não é fácil.
– Não se vá embora sem passar por cá para lhe levar um garrafão do meu vinho. O melhor é levá-lo já.
– Deixe lá Ti Manel.
– E as sua meninas – atalhava a Tia Ester.
– Elas vão aparecer por aí.
– Agora já não escolhem os gelados!
Foi sempre assim o Ti Davim.
– Quanto é o café?
– Se fosse para pagar não lho tinha servido.
Aqui se fizeram e divulgaram as sucessivas campanhas eleitorais. Aqui, as suas mesas eram os suportes onde manifestos e “Guichos” circulavam de mão em mão. Aqui circulava a palavra e a liberdade.
Aqui se curtiram previsíveis derrotas eleitorais. Aqui se bebeu e comeu com Francisco Pires e Maria da Luz na noite da mudança de ciclo em Mogadouro. Sem ressentimentos!
Aqui passei a última tarde com Jacinto Galvão. Bebemos, conversamos, planeamos o jantar do dia seguinte com a Alice, falamos do teatro, da vida, dos projetos, da ética, da palavra e da Amizade!
Era o Café Davim, do Ti Manel!
Irreverente, insubmisso e senhor do seu nariz.
Contava ele que tinha sido abordado por um Vereador para lhe propor alojamento de pessoas que vinham de fora bem como alimentação.
– Sr. Davim, estávamos a pensar poder alojar cá umas tantas pessoas. Queríamos dividir por todos.
– O Sr. Vereador desculpe. Em 30 e tal anos de Democracia nunca me deram nada a ganhar e agora vem cá com paninhos quentes!? Olhe, leve-os para sua casa e a sua mulher que os atenda que a minha tem mais que fazer!
O Sr. Vereador saiu sem dizer palavra.
Era assim o Ti Manel, Frontal e Amigo!
Partiu um destes dias, sem me avisar. Grande malandro, isso não se faz a um Amigo! Palavra!
Vou ter que mudar de café, ou então não!?
Tomarei em casa, olhando para o infinito, lembrando uma grande Amizade!
Um abraço Ti Manel!