matem os velhos

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MATEM OS VELHOS!
Já repararam que hoje em dia parece que só o que é fresco, rápido e brilha nos números, é que tem lugar ao sol?
Parece que toda uma vida de observação, todos os tombos que nos ensinaram a levantar e os acertos que nos deram calo, se tornaram descartáveis de um dia para o outro.
Vivemos nesta obsessão pela juventude como se ela fosse o único certificado de valor absoluto. Mas há um custo invisível nesta pressa toda.
Quem já atravessou ciclos, quem já viu promessas políticas e económicas nascerem e morrerem, carrega um saber que não vem em tutoriais nem se mede em métricas de produtividade.
É o saber de quem pode dizer: “eu já estive ali”.
E é aqui que a coisa se torna perversa.
São precisamente estas pessoas que acabamos por empurrar para a margem. E não é por lhes faltar capacidade.
Na verdade, a experiência incomoda.
A experiência é uma chatice para quem quer vender ilusões ou impor retrocessos.
Quem tem bagagem reconhece padrões. Sabe onde é que aquele caminho vai dar e lembra-se do que já falhou.
Acima de tudo, quem tem experiência sabe perguntar “porquê?”.
Num tempo em que o marketing político e empresarial vive do imediatismo, a memória é o maior inimigo do “novo” que é, na verdade, apenas um erro antigo com uma embalagem colorida.
Há aqui um fenómeno curioso e factual que raramente é discutido abertamente. Pela primeira vez na história recente, estamos a ver gerações mais novas, particularmente no género masculino, a assumirem posturas muito mais conservadoras do que os seus pais ou avós.
Enquanto a geração dos 50+ cresceu a conquistar liberdades e a questionar dogmas, uma parte significativa da juventude atual parece estar a procurar refúgio em valores mais rígidos e tradicionais.
Isto cria um paradoxo explosivo e um banquete de almas tenras para os poderosos deste mundo.
Quando as elites políticas e económicas promovem o rejuvenescimento forçado das instituições, nem sempre o fazem para trazer inovação real.
Muitas vezes, fazem-no para calar a geração que tem memória das lutas progressistas. Querem substituir vozes críticas por uma força de trabalho e de opinião mais jovem, mais moldável e, nalguns casos, ideologicamente mais dócil.
Não se trata de um ataque à inovação dos jovens. Pelo contrário. A verdadeira inovação precisa do atrito da experiência para não se tornar apenas uma repetição de falhas passadas.
O perigo real surge quando se utiliza a juventude como um escudo para implementar políticas que a história já provou serem desastrosas.
Ao desvalorizar quem já viu este filme antes, as elites neutralizam as vozes capazes de desmontar narrativas e expor incoerências. Não é preciso censura directa, basta criar um ambiente onde a memória é tratada como saudosismo ou resistência à mudança.
Ignorar a voz de quem viveu a história não é progresso. É cegueira voluntária. Uma sociedade que escolhe ser cega para parecer moderna é uma sociedade que caminha, de olhos abertos, para o abismo que os mais velhos já tinham sinalizado.

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