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Mais 2.500 doentes juntam-se à lista de espera em 5 anos
De Dezembro de 2015, os primeiros dados conhecidos, até Dezembro de 2019, a lista de espera de doentes para cirurgia nos Açores aumentou em 2.491 inscritos.
Em Dezembro de 2015 estavam registados 9.778 doentes em lista de espera e em Dezembro de 2019, segundo os dados agora divulgados, existem 12.269 açorianos á espera de uma cirurgia.
Tal como há cinco anos, a esmagadora maioria dos doentes em espera estão nas especialidades de oftalmologia e ortopedia e o maior número regista-se no Hospital de Ponta Delgada.
Com efeito, a 31 de Dezembro de 2019 o Sistema Integrado de Inscritos para Cirurgia dos Açores (SIGICA) registava 12.269 propostas cirúrgicas, a que corresponde um aumento de 2,5% comparativamente a Dezembro de 2018.
No que respeita ao número de utentes inscritos, na comparação com o período homólogo, registou-se um incremento de 0,7% para a globalidade do Serviço Regional de Saúde.
Tempo Máximo de Resposta aumentou
A percentagem de utentes operados dentro do Tempo Máximo de Resposta Garantido (TMRG) aumentou de 53,9%, em Novembro de 2019, para 60,5%, em Dezembro de 2019.
No decurso do mês de Dezembro, no que concerne a novos inscritos em Lista de Inscritos para Cirurgia (LIC), verificou-se uma redução relativamente ao mês de Novembro, mas também na comparação com o mês de Dezembro de 2018, neste caso de cerca de 11,8%.
Destaca-se igualmente a tendência decrescente do número de propostas cirúrgicas em LIC ao nível do Hospital do Divino Espírito Santo, verificada ao longo de todo o 2.o semestre de 2019, em contraste com a tendência crescente que se registou no 2.o semestre de 2018.
Comparativamente a Dezembro de 2018, verifica-se uma redução ao nível do tempo médio de espera em LIC de 2,5%, a que correspondem 14 dias.
O Tempo Médio de Espera (TME) dos operados em Dezembro de 2019 fixou-se em 289 dias, valor 21,4% superior ao registado em igual mês de 2018, de onde se extrai que, no mês em análise, foram operados utentes com maior antiguidade em LIC.
Mais utentes operados
No conjunto de 2019 foram operados 8679 utentes, o que representa um acréscimo de 8,5% relativamente a 2018 (735 utentes a mais).
Em Dezembro de 2019 foram operados 588 utentes no Serviço Regional de Saúde (SRS).
O aumento de lista de espera em Dezembro passado foi proporcionado pelos incrementos registados ao nível do Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira (HSEIT), e do Hospital da Horta (HH).
O Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), é o único que registou uma diminuição no volume total de propostas cirúrgicas.
No que concerne ao número de utentes inscritos, em igual mês, este fixou-se nos 11.133, representando um aumento muito ligeiro no conjunto do Serviço Regional de Saúde (SRS), verificando-se também uma redução deste parâmetro ao nível do HDES.
No que concerne ao tempo médio de espera (TME) em LIC, verificou-se um ligeiro aumento de 4 dias para a globalidade do SRS, em Dezembro de 2019, e simultaneamente uma diminuição desta métrica ao nível do HSEIT, comparativamente ao mês de Novembro de 2019.
Ainda segundo o boletim do SIGICA, verificou-se uma diminuição considerável ao nível das novas entradas em LIC para a globalidade do SRS, que em Dezembro de 2019, se cifraram em 794, comparativamente às 1.142 novas entradas registadas no mês anterior.
Esta tendência é transversal às três unidades hospitalares.
215 cirurgias canceladas
Foram canceladas 215 propostas cirúrgicas em todo o SRS, uma redução muito significativa no comparativo com Novembro de 2019.
Considerando a totalidade do SRS, no decurso de Dezembro de 2019, foram operados 588 utentes, verificando-se, ao nível dos três hospitais, uma redução no total de operados comparativamente ao mês anterior.
No que respeita ao TME dos operados, para a totalidade do SRS, este fixou-se em 289 dias. Nesta métrica, HDES, EPER e HH, registam uma diminuição, mais pronunciada no primeiro, já o HSEIT, regista um aumento na comparação com o mês de Novembro de 2019.
Em termos da percentagem de operados dentro do Tempo Máximo de Resposta Garantido (TMRG) verificou-se uma melhoria comparativamente ao mês de novembro de 2019.
Em Dezembro de 2019, no SRS, foram realizadas 60,5% de cirurgias dentro do TMRG.
Foram realizados um total de 253 procedimentos cirúrgicos urgentes nas três unidades hospitalares do SRS.
A percentagem de operados em regime de ambulatório permaneceu relativamente constante entre novembro e Dezembro de 2019, quer no que à globalidade do SRS diz respeito, quer no que aos hospitais, individualmente, concerne.
A via sacra de uma doente em espera
É apenas uma história como milhares de outras que existem no Serviço Regional de Saúde (SRS), mas que denunciamos hoje, porque o nosso jornal teve acesso a toda a documentação: a doente chama-se Maria Hermínia Gonçalves, da ilha Terceira, e queixou-se, em meados do ano passado, ao Hospital de Santo Espírito, de que a sua doença estava referenciada em 9 Maio de 2019, com entrada no Serviço de Dermatologia em 15 de Maio do mesmo ano, para uma consulta de especialidade que já ia em espera com 180 dias, quando o Tempo Médio de espera regulamentado é de 150 dias.
Enviou uma queixa por escrito a 14 de Novembro para o Hospital, Direcção Regional de Saúde e Provedoria do Utente.
Cinco dias depois recebeu resposta da Provedoria do Utente, informando que a doente “se encontra a aguardar marcação de consulta, de acordo com os critérios clínicos em apreço e os recursos humanos disponíveis”.
Ou seja, a Provedoria não disse coisa nenhuma.
No dia 8 de Janeiro deste ano a doente recebe da Direcção Regional de Saúde uma resposta, dizendo que, após auscultação ao Hospital da Terceira, confirmando os factos descritos na queixa e adiantando que a doente “encontra-se na 986.a posição na lista de espera na prioridade de acesso à mesma foi considerada de não prioritária (normal)”.
Confirma que o Tempo Médio de Resposta “já se encontra ultrapassado”, pelo que a doente poderá “ser referenciada para outra entidade do Serviço Regional de Saúde ou para uma entidade do sector privado convencionado”, explicando que a doente “poderá requerer junto do Hospital de Santo Espírito” para que seja referenciada para uma daquelas entidades.
A doente volta a queixar-se por escrito que a sua espera já leva mais de 245 dias.
No dia 31 de Janeiro deste ano recebe uma longa carta do referido Hospital, onde confirma tudo o que foi relatado na reclamação e confirma também que a doente tem direito a ser referenciada para outra entidade do SRS ou entidade privada.
“Todavia, à data, não existe indicação da entidade do Serviço Regional de Saúde definida para referenciação ou da entidade do sector privado convencionado para o efeito”, lê-se na carta do Hospital.
O Hospital termina dizendo que “está a desenvolver as devidas diligências, em articulação com a DRS, para obter a indispensável solução para a situação em preço”.
Concluindo: mais de meia dúzia de cartas depois e muitas centenas de dias à espera, a doente vai continuar… à espera!
Assim vai o Serviço Regional de Saúde dos Açores.
jornal@diariodosacores.pt
(Diário dos Açores de 15.02.2020)