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POSTAL DO DIA
A maioria dos bispos portugueses não suporta Francisco
1.
Faz hoje 10 anos que o fumo branco anunciou um Papa que veio das terras do fim do mundo.
Um Papa que chegara da América Latina, carregado de poesia e vontade de mudança.
O primeira Papa jesuíta.
O primeiro a desejar chamar-se Francisco, sinal de uma tentativa de regresso à pureza do cristianismo – uma Igreja mais perto dos pobres, dos que não sendo pobres privilegiam a espiritualidade à matéria ou a profundidade à ditadura da superfície.
Chegou e acenou à população com os seus sapatos gastos de tanto caminho.
2.
Faz hoje 10 anos que Francisco iniciou uma viagem que não pode ter retorno.
Uma viagem cheia de obstáculos, de lixo escondido, de vendilhões do templo, de perversidade, de ignomínia.
Foi fazendo o seu caminho e percebendo que o Diabo estava dentro do templo e ocupara muitos dos seus quartos.
Lançou pistas para o futuro.
Colocou assuntos tabu na ordem do dia e assumiu prioridades de curto e médio prazo e desafios para o futuro.
Ao mesmo tempo foi alterando o paradigma dos cardeais com nomeações que foram ao encontro de uma vontade de exorcizar os demónios da igreja, o conservadorismo bafiento, o poder no pior dos sentidos.
3.
Depois de Bento XVI, Francisco trouxe a pedofilia e os abusos da Igreja Católica para a primeira linha das prioridades.
Sofreu pressões de todos os lados.
Mas não vacilou.
Deu ordens claras para o clero e tornou dogmático o combate, não podiam existir contemplações ou dúvidas no processo.
Francisco não é um ingénuo. Sabia que a sua ação sofreria uma forte oposição.
4.
Na história da Igreja esse combate sempre existiu.
Entre os acólitos que defenderam ao longo do tempo as várias inquisições, a ostentação, o medo como modo de exercício de poder e a defesa, já no século XX, das principais ditaduras de extrema-direita.
Por outro lado, sempre existiram os que estiveram na defesa da palavra de Jesus Cristo. Os que se sacrificaram em campos de morte, os que resistiram, os que estiveram ao lado das pessoas mais humildes, os que verdadeiramente acreditaram sempre mais em Deus do que no fedor insuportável do festim que cega e corrompe.
5.
Passam hoje 10 anos pela escolha de Francisco.
E em Portugal ninguém ainda afirmou o óbvio: a Igreja portuguesa não está com Francisco.
No silêncio e na sombra mantiveram o seu status quo.
Continuaram a exercer o seu poder tentando fazer o menor número de ondas possível – afinal, Francisco não é eterno e será substituído por um outro Papa, é tudo uma questão de paciência e recato na espera.
A abordagem da hierarquia da Igreja Católica ao tema da pedofilia provou-o.
A maioria dos bispos portugueses não estão ao lado do Papa. Estão no outro lado.
Do lado de uma Igreja bafienta, reacionária e conservadora no pior dos sentidos da expressão.
Uma Igreja que continua a ser a Igreja do Cardeal Cerejeira, figura cimeira do salazarismo e alicerce da ideologia do Estado Novo.
Vemos alguns dos bispos a falar e tentamos encontrar a máquina do tempo para perceber se é mesmo verdade o que está a acontecer ou se alguém nos transportou para meados do século passado.
6.
A Igreja Católica passa por um tempo decisivo.
O que irá acontecer no Vaticano após a morte de Francisco é o ponto chave. As tropas estão posicionadas e já não disfarçam.
E em Portugal a coisa ficou clara.
Cada um se mostrou tal como é.
Sabemos qual o seu lado e onde se posicionaram, não há ambiguidades, o que não deixa de ser uma vantagem.
No dia em que forem corridos e substituídos como bispos por padres jovens deste tempo, e há muitos que defendem uma ideia de Bem e um pensamento de modernidade, nesse dia saberemos que a Igreja está no caminho certo.
Mas se esta gente não for corrida, se muitos destes bispos portugueses não forem substituídos, meu Deus…
… se não forem substituídos só um apocalipse divino poderá resolver o problema.
LO