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1º Galope
Rasgo costuras às máscaras ocasionais de deuses deixadas ao acaso nos salões litúrgicos sob lentes de olhos fantasmais durante a fuga de títeres esquálidos que não gostavam de acontecimentos que denunciassem o seu anonimato nas burladas franjas sociais que se esvaíam em humores depois de extorquidos à subsistência pela impúdica catequese da crença que os algemava à falácia divina da eternidade sob a ficção de evangelhos como sentenças de morte para todos aqueles que ingenuamente se entregavam às torturas da fé e à perdição inequívoca do seu futuro em nome da mais pérfida imoralidade contra os costumes que se entendiam no seio da natureza que acontecera por um acaso cósmico e que dera existência aos elementos para que brotassem das águas multidões de vidas coloridas sem qualquer urgência espiritual das sombras projectadas pela usurpação dos destinos por poderes sinistros que se aferrolhavam em fortalezas como se o sangue os diferenciasse de todos os que seguiam os ritmos naturais dos céus e da terra até à morte final sem túmulos nem orações e cuja existência seria recordada nas memórias que os homenageavam pelos trajectos empreendidos no tempo e no espaço e que registariam as primeiras páginas da história dos viventes que um dia se viram condicionados por aqueles que criminosamente assumiram uma superioridade sustentada na missão divina e cujos descendentes agora fogem cobertos de cobardia e sem máscaras perante a revolta dos que descobriram a falsidade das suas afirmações que ao longo dos séculos assassinaram gerações e gerações de incautos e desprotegidos às garras dos que adulteraram o ritmo cardíaco do planeta em nome do seu despotismo criminoso contra o qual galoparam multidões sem freio que se inscrevem na história do nosso passado para que o vocábulo fraternidade tenha sentido à mesa da mesma farinha onde se celebre com vinho a libertação dos espasmos como um texto sem pausas no galope das palavras libertárias que cavalguem o futuro para uma nova dimensão estrutural da liberdade irrevogável e sem a clandestinidade do medo e que nos mantenha na vertical exigência de uma nova humanidade sem as metáforas dos vermes e da peçonha
Luís Filipe Sarmento, «Rouge – galopar»
Foto: Isabel Nolasco
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