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1. 7.8.2024, 4ª fª
Creio que li nas Escrituras ou seria mais cedo na catequese? que é fatal como o destino quando se lava o carro nas 48 horas seguintes chove. A tradição popular, embora com pouca cientificidade, assim o atesta e eu comprovo que em 9 de cada 10 vezes, assim aconteceu. Há meses que andava para lavar o carro, mas sempre que passava ela Melo e Melo na Ribeira Grande estava sempre a abarrotar e desta feita, tinha o carro há imenso tempo sem ser lavado, cheio de teias de aranha, de presentes de pombos e outras aves, lamas e outras sujidades. Na passada segunda-feira tinha tempo disponível e esperei 40 minutos para o lavar…Hoje de manhã acordei com uma chuva miudinha, morrinha à moda do Porto, como eu costumo dizer. A temperatura baixou levemente para os 24 ºC (o recorde deste dia é de 1954 com 28 ºC) e prevê-se que amanhã regresse o bom tempo. Sei que a memória vai fraquejando com a idade e tende a confundir tudo e a dar leituras erradas, mas dos meus 20 anos de Açores, raras vezes tivemos 15 dias seguidos de sol e com imenso calor, como este ano. Neste momento a sensação térmica é de 30 ºC mas não parece… Ainda agora vim do pátio, onde estive a tratar das plantas que se têm reproduzido bem, em especial os catos a eu agora se convencionou chamarem “suculentas” talvez por alguém estar a morrer de fome e sede e ter-se servido deles para sobreviver, digo eu, com a minha cara sardónica…
A Nini teria imensas dificuldades com tanto calor e humidade dados os problemas respiratórios do seu enfisema. Nos últimos anos já passara a preferir o frio ao calor, como aquele que apanhamos entre 2002 e 2005 em Bragança …no último ano lá tivemos -12 º no inverno e num dia em que fomos à Eucísia apanhamos 43 ºC!!!
E muito a propósito leio esta citação de Bukowski “E quando ninguém te acorda de manhã, e quando ninguém te espera na noite, e quando você pode fazer o que quiser.
Como se chama? Liberdade ou solidão?” Charles Bukowski.
Eu sei a resposta e não quero esta liberdade a que chamo solidão…
pior foi o caso do casal descoberto ontem nos arredores de Castelo Branco, ela acamada morreu (de fome e sede?) sem assistência médica pois o marido sexagenário teve morte natural e ali ficaram os 2 em lento estado de decomposição…. Isso sim é solidão, nesta sociedade de vasos comunicantes estanques em que todos somos desconhecidos, mesmo que aparentemente amigos no Facebook ou noutra rede social. E provavelmente teriam filhos e netos que os ignorariam, pois viveria as suas vidas longe e preocupados com as suas vicissitudes não teriam tempo de pensar nos velhos. Penso nisto e dos 4 filhos que tenho, morreria sem que soubessem, restando a Bebé uma filha que adotei há 30 anos para cuidar de mim à distância e perante ela lhe fazer a prova diária de vida. Irónico quando penso que os dias mais felizes da minha vida foram (em 13.8.86) quando a filha na Austrália e (em 10.9.1996) quando o mais novo nasceram…
Se o alarme não fosse dado aqui em casa, com o telefonema diário da filha pelas 20.45, seria a nossa governanta que pela 5ª fª seguinte me encontraria ainda não muito decomposto nem mumificado.
É um pensamento que me ocorre amiúde, em especial quando estou no duche. Quase como o pensamento do sismo no chuveiro, saio de lá assim como Adão no Jardim de Éden (nem sou Adão nem a Lomba da Maia é o Éden), tento vestir-me?, agarro numa toalha? ou a sobrevivência antes que tudo? Recordo sempre algumas das cenas hilariantes que a Nini contava quando no Parque da Prelada (Monte dos Burgos, Porto) um elefante no meio da rua se dirigia para o nosso Fiesta e eu saí do carro para a segurança do passeio, deixando a desgraçada da condutora para enfrentar o paquiderme. (Estava um circo aboletado no Parque de campismo e os animais tinham ido dar uma volta). Outra vez em Macau (1980 ou 81), depois do meu programa de rádio fôramos cear, eu, a minha mulher e um meu cunhado, a um restaurante quase em frente ao Hotel Estoril na Sidonau Pasi (Avenida Sidónio Pais) e ao fundo num canto estavam uns 3 ou 4 indivíduos que pareciam das seitas….antes da primeira cadeira voar, já estava eu a acelerar ao volante do Toyota Cellica à espera que a mulher e o cunhado se me juntassem. Tenho outras cenas de escapatória, melhor descritas nos meus livros ChrónicAçores, mas por aqui se pode calcular que em caso de sismo, seria “ó pernas para que te quero e os pruridos e constrangimentos sociais viriam depois”.
Não entendo como as restantes pessoas não têm pensamentos ou temores destes, por exemplo, morrer na sanita deve ser altamente desagradável, e de odor desaconselhável, para quem viesse a descobrir o cadáver.
Outra morte que, inversamente ao descrito me faz sorrir, é aquela em que o idoso que saiu numa missão de infidelidade conjugal (com ou sem Viagra) desfalece eternamente em pleno ato, merecendo um epitáfio do género “viveu infeliz mas teve uma morte santa…” Mais pena teria eu da sua companheira de ocasião que podia ficar traumatizada.
Claro que eu e a maior parte de nós queria era morrer no sono, para ao acordar se aperceber que o sonho não terminava nunca mais, e não era sonho, era o despertar numa nova dimensão, mas não acredito num céu de anjos e querubins com um São Pedro de barbas longas a verificar a lista de convidados… Como já muitos dizem, agora que o Papa proclamou que não havia Purgatório, esse limbo, essa antecâmara de melhores momentos, creio que devemos interiorizar em termos de céu e inferno que este é aqui na terra enquanto vivemos…pelo que o melhor é ser otimista e imaginar que a outra dimensão será algo melhor do que esta…mas atualmente já não acredito na reencarnação. Talvez não seja acreditar, mas antes a negação dum temor, o de regressar como barata, cucaracha nunca.