José Gabriel Ávila · DESVIAR ATENÇÕES (Crón. rádios)

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DESVIAR ATENÇÕES (Crón. rádios)
Os portugueses, nos últimos dias, foram forçados a seguir pelas rádios, televisões e jornais explicações sobre acontecimentos ocorridos em gabinetes governamentais, e os comentários de políticos de todos os quadrantes, orientados pela conquista do poder.
Horas e mais horas da programação das televisões e rádios foram dedicadas a essa telenovela. Como se a vida de todos nós girasse em torno das diatribes de quem alimenta a sede do poder a qualquer peço, ou a manutenção do poleiro sem ter de responder ao serviço e responsabilidade que a democracia lhe conferiu.
Não é possível manter esta situação por muito mais tempo, mesmo alegando-se a busca da verdade. A verdade é transparente e cristalina e não há duas verdades, consoante as ideologias dos intervenientes parlamentares.
É tempo de parar com o espetáculo deprimente de envolver o processo democrático em jogos políticos que rejeitam os resultados eleitorais e visam a tomada do poder.
Não é isto a democracia, nem é esta instabilidade política que assegura ao eleitorado que o regime está saudável, atento aos problemas e que tudo faz pelo bem-comum.
A continuar assim, corre-se o risco de não dar importância aos problemas sociais que o país enfrenta e que, ao serem ignorados, tornam os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Cito apenas algumas notícias dos últimos dias que escaparam à discussão da opinião pública:
– Só nos primeiros três meses do ano, a margem financeira dos seis maiores bancos que operam em Portugal subiu 70,3%, em comparação com o período homólogo, ou seja os seis maiores bancos lucraram 2,08 mil milhões de euros.
Mais: Devido ao aumento dos juros, a Banca não está a cumprir a lei em caso de penhora. Deixa famílias sem um mínimo de sobrevivência equivalente ao valor do ordenado mínimo, atualmente fixado em 760 euros. A lei existe mas os bancos não cumprem.
E ainda esta: Metade dos portugueses tem salários abaixo dos 1.050 euros brutos – informou o instituto nacional de estatística. E acrescentou: em 2021, a maioria das mulheres recebeu menos de mil euros brutos, enquanto o salário dos homens foi 18 % mais alto.
Podia continuar a citar abundantes e crescentes situações decorrentes do aumento dos preços, ou a relutância de uma parte dos fazedores de opinião, entre os quais muitos políticos, justificarem a pobreza e o desemprego com a preguiça e falta de vontade para o trabalho, mas nunca por salários baixos e injustos.
Existem incompetências governativas graves, gestões empresariais públicas e privadas mal sucedidas, lá e cá, encobertas por castas bem protegidas que nunca assumem erros, e tudo fazem para desviar as atenções para outras latitudes.
Os agentes do poder têm de recuperar o bom senso. De contrário, corre-se o risco de desacreditar a democracia e a autonomia, valores que, em nenhum caso, devem estar em risco.
Os homens passam e as instituições ficam e o melhor que nos pode acontecer é corrigirem os defeitos e preservarem as virtudes.
Sempre, sempre ao serviço do bem-comum e nunca para satisfazer egos pessoais e de pequenos grupos.
O poder é do povo e a sua honradez deve ser seguida por quem o representa.
21 maio 2023
José Gabriel Ávila
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