improvisos e más soluções emLisboa

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Compreende-se que, em emergências, há por vezes que fazer ajustamentos nos serviços. Mas não se entende que os “ajustamentos” sejam agressivos contra a saúde pública, sobretudo quando são decididos pela Administração da Saúde, que deve ser a maior garante de qualidade e o melhor exemplo sanitário.

Um amigo meu, residente em Lisboa, na zona de Benfica, acaba de me ligar a partilhar a sua preocupação, inquietação e indignação.

Usualmente é seguido na USF Rodrigues Miguéis. Gosta muito do atendimento e confia em absoluto no(a)s médico(a)s dessa unidade. Já lá esteve depois de se iniciar esta emergência do Coronavírus e ficou satisfeito por ver que já tinham tomado providências para prevenir contágios no interior e no atendimento.

Hoje, voltou lá e veio alarmado. Disseram-lhe que a USF vai ser evacuada das instalações (serão afectas a outro uso, salvo erro, para tratamento de infectados com Covid-19) e vai ser transferida para o edifício onde já funcionam a USF Gerações e a USF Luz. Trata-se de um prédio de habitação com cinco andares, que o Ministério comprou há alguns anos já.

A USF Rodrigues Miguéis ficaria instalada no 5.º andar, com acessos muito difíceis e sem as menores condições para instalar os seus 30 profissionais e a espera dos utentes, nem para garantir a distância de segurança imposta pelo quadro de risco de contágio em que vivemos.

Há muitos doentes de grupos de risco e país com crianças pequenas, que terão a maior dificuldade em subirem com carrinhos se bebé até àquele 5.º andar.

Piorando o quadro, disseram ao meu amigo que alguns dos profissionais da USF Luz foram fazer o teste para Covid-19. Como será possível garantir o isolamento? É obviamente impossível de o conseguir num edifício de cinco andares, onde, hoje, já trabalham 30 + 6 profissionais de saúde e teriam de passar a trabalhar 30 + 6 + 30 profissionais.

Desolação era o estado do meu amigo, que diz que ficou sem USF Rodrigues Miguéis. Diz que tem medo de ir a um centro médico, onde terá elevada probabilidade de contrair a doença de que todos fugimos. Está indignado e pergunta: se estávamos confiantes na nossa USF, por que destroem a confiança nesta altura, em que tanto precisamos dela?

Agora, pergunto eu:

1. Por que é que ARS/Ministério não deixam a USF Rodrigues Miguéis onde está e não recorrem a outros equipamentos públicos para montar internamentos de campanha para infectados com o Coronavirus? Por exemplo, pavilhões escolares que estão encerrados nesta altura.
2. Ou, na eventualidade de as actuais instalações da USF Rodrigues Miguéis serem mesmo as mais ajustadas ao novo fim ditado pela emergência, por que não instalar provisoriamente a USF num pavilhão escolar (as escolas não estão a funcionar), garantindo a médicos, outros profissionais e utentes boa acessibilidade, espaço suficiente, arejamento e atendimento seguro e adequado?

Em baixo, fotografias do que está em causa e que gerou a inquietação do meu amigo. A primeira foto é das instalações actuais da USF Rodrigues Miguéis. As outras fotos mostram o edifício sobrelotado para onde a querem deslocar, juntando-a a duas outras USF: o edifício de habitação “adaptado”, a entrada que passaria a servir três USF e um dos gabinetes, com tudo encavalitado.

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