Ilyushin Il-80. O avião do “juízo final” de Putin

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Ilyushin Il-80. O avião do “juízo final” de Putin
O avião foi criado durante a Guerra Fria a partir de um modelo dos anos 70. Praticamente sem janelas e com antenas para comunicação via satélite, é capaz de resistir a uma explosão nuclear.
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Aeronave secreta de Putin para o ‘fim do mundo’ é saqueada na Rússia
Avião foi projetado para evacuar o presidente e outros altos funcionários de Moscou em caso de ameaça nuclear. Kremlin, incomodado com a grave falha de segurança, diz que medidas serão tomadas
María R. Sahuquillo11 dez 2020-16:55 UTC
Uma das aeronaves russas em um desfile militar em 2010, em Moscou.
Espiões ou simples ladrões, a verdade é que um grupo de pessoas mirou alto em seu objetivo criminoso e saqueou um dos aviões militares secretos russos projetados para evacuar o presidente Vladimir Putin e a cúpula governamental e militar em caso de desastre nuclear. As autoridades russas e o comitê militar especial investigam o roubo em um Ilyushin-80, conhecido como avião do fim do mundo ou avião do juízo final, enquanto estava estacionado no aeródromo de Taganrog-Yuzhny, um centro técnico-científico restrito e localizado no sul do país. Os ladrões levaram pelo menos 39 equipamentos eletrônicos da aeronave, embora os dados finais da pilhagem, bem como o desenho específico do avião, sejam confidenciais. O Kremlin, incomodado com a grave falha de segurança e o vazamento, enfatizou que medidas serão tomadas.
A Rússia tem quatro aeronaves desse tipo (também conhecidas como posto de comando aerotransportado avançado, que é o que têm a bordo). O Ilyushin-80 (conhecido pela OTAN como Maxdome) possui equipamentos de comunicação especializados para manter o contato e o controle de todas as forças militares do país; além disso, acesso ao comando dos sistemas de mísseis, incluídos os mísseis balísticos submarinos por meio de uma antena retrátil. O avião secreto não tem janelas para os passageiros em sua fuselagem, para tentar preservá-los em caso de explosão nuclear, e tem blindagem contra impulsos eletromagnéticos.
O misterioso roubo em uma instalação militar restrita causou polêmica na Rússia, onde analistas e especialistas militares perguntaram sobre a segurança das instalações; e ainda mais numa época em que as tensões com o Ocidente são intensas. Funcionários do aeródromo foram interrogados, mas ainda não há presos ou suspeitos. Mikhail Jodorénok, especialista em questões militares e de segurança, acredita que os ladrões estavam organizados, porém não buscavam roubar segredos militares, mas apenas aproveitar os dispositivos roubados para extrair os metais preciosos que costumam conter. No entanto, isso não significa que algum comprador experiente também possa tirar proveito se souber o que está comprando, diz Jodorénok, analista do portal Gazeta.ru.
Os ladrões entraram —não foi dito quando, mas a primeira notícia surgiu na terça-feira— no avião do juízo final pela escotilha de carga e de lá andaram pelo aparelho, segundo disseram fontes da investigação à agência estatal Tass. Não foram muito cuidadosos: os investigadores encontraram impressões digitais e marcas de sapatos. As autoridades abriram uma investigação criminal por roubo de material militar no valor de mais de um milhão de rublos (cerca de 68.425 reais), embora a cifra seja aproximada porque não só se desconhece o que está faltando, como também é muito difícil calcular o valor das peças do Ilyushin-80, que são criadas modificando o avião Il-86.
O avião do fim do mundo estava na instalação científica de Taganrog, conhecida como G. M. Beriev, para uma regulagem no trem de pouso. Acessar o aeródromo, fortemente protegido, não é fácil para pessoas sem autorização e tampouco sair com uma carga bastante pesada e valiosa, como a que retiraram do Ilyushin-80, que como as outras aeronaves do mesmo tipo está em serviço há mais 15 anos e na lista para serem substituídas por outras mais modernas. Putin aumentou os gastos militares em 175% entre 2000 e 2019, segundo dados do Instituto de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri).
Não é o primeiro escândalo do centro G. M. Beriev, que, além de reparar aeronaves militares, desenvolve sistemas de vigilância e protótipos como o famoso avião anfíbio Be-200. Dois anos atrás, cerca de 20 de seus trabalhadores ficaram feridos num envenenamento por tálio, incidente que ainda não foi esclarecido.
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