ilha das Flores nos coriscos mal-amanhados hohe RTP AÇORES

O princípio de tudo no princípio do mundo

Hoje à noite é o episódio nas Flores, a ilha onde a rodagem da aventura começou, estávamos nos últimos dias de Março do ano passado. Em todas as ilhas fomos recebidos com calor, e em certos locais este chega a abrasar. Obrigado, “madrinha” Gabriela Silva – deste-nos tanto que guardámos uma surpresa para ti. Houve uma longa viagem em que a tua sabedoria foi tal, que começámos espontaneamente a filmar e a captar som. Guardámos alguns desses momentos para os 55 minutos florentinos. A equipa na carrinha contigo, entre lágrimas nos olhos e riso, encantados todos com a tua luz.
A 24 de Março de 2019 iniciei nos meus perfis das redes sociais uma campanha com mais de 200 posts que acompanharam o processo de filmar in loco este desejo antigo. O primeiro, recuperado porque a emoção está toda lá, foi este:

A foto acima foi tirada 2 minutos depois do nosso drone ter começado a voar sobre a magnífica Aldeia da Cuada, assinalando assim o primeiro “Acção” dum sonho com 21 anos. Julgo que a imagem capta o sorriso inteiro de quem realiza algo que não sabia ser capaz. Atrás dele estão cerca de 18 meses de pré-produção, desde que acordei na manhã do 40º aniversário decidido a plantar as raízes do projecto da minha vida, produzir pela primeira vez, chocar de frente contra todos os temores. Lembrei-me muitas vezes dumas frases curtas de Beckett: “Tenta. Falha. Tenta outra vez. Falha outra vez. Falha melhor”.
A ideia é simples: dois amigos de ilhas historicamente rivais, um terceirense e um micaelense, empreendem uma viagem de regresso a casa. Um episódio em cada ilha, o Corvo e os seus 17 kms quadrados com a mesmíssima dignidade da imperial São Miguel, à procura dos protagonistas locais, e com uma missão pessoal em cada território da mítica Atlântida. Mais radical ou mais intimista. Canyoning em São Jorge, homenagear um escritor falecido no Pico.
Eu e o Nuno Costa Santos, um comediante e um escritor, unidos por esta fantasia desde os corredores da faculdade, somos os “Mal-Amanhados” do título, expressão muito comum na gíria açoriana – misto de coisa feita à pressa com desenrascanço sadio. O subtítulo – “Novos Corsários das Ilhas” – é um louvor directo a Vitorino Nemésio, o corsário original, um dos símbolos do território nacional que mais artistas produz por km quadrado. É com alegria e honra que apresentamos esta empreitada sob a chancela da RTP-Açores, certos de que ela fará o seu caminho pelo mundo português, enquanto sonhamos com uma sequela pela diáspora.
Acredito que o que por aí vêm contém algo dos ingredientes essenciais da alma açoriana: tradição, empreendedorismo, cultura, orgulho, modernidade, história, espírito comunitário, hospitalidade, beleza natural, aventura, humor. Uma palavra para os nossos mais de 70 inesquecíveis protagonistas nativos: citadinos e rurais, novos e velhos, românticos incuráveis, resilientes e sonhadores, do mar e da terra e do ar, dignos representantes da transversal sociedade que habita o meio do Atlântico com amor puro pelos seus quase 6 séculos de passado e olhos sempre postos no horizonte, metáfora singela do futuro.

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