GUIA UCRANIANA NOS AÇORES

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Susana Myrovyth é natural de Lviv, uma cidade a Oeste da Ucrânia, que faz fronteira com a Polónia. A família chegou aos Açores no final dos anos 90 e a nossa entrevistada veio mais tarde, em 2003. “O meu padrasto estava a trabalhar na construção civil no continente e passou pelos Açores, para construir hotéis e apartamentos. A minha mãe também veio e decidiu que os filhos dela ficavam melhor a viver em São Miguel. Não foi a minha decisão, foi a decisão dos meus pais, mas que, passado algum tempo, reconheço que se tornou uma fantástica decisão. Estou muito feliz por está cá”.
Em relação à comunidade ucraniana residente, é de opinião de que há 10 anos atrás eram mais unidos, mas hoje em dia cada um faz a sua vida, criou o seu ciclo de amigos, inseriu-se na comunidade, e actualmente entre os ucranianos residentes não há grande ligação. Desde que chegou a São Miguel e até agora sente que foi sempre muito bem acolhida.
“Tenho família e amigos em várias zonas na Ucrânia. Falo com eles todos os dias e o que me relatam é que estão a viver uma situação de loucos. Estou a sentir medo pelo que as pessoas estão a viver neste momento, apesar de estarem a passar por essas dificuldades com muita determinação, mas por outro lado sinto orgulho do que estão a fazer. Ao mesmo tempo sinto raiva de uma situação que podia ser evitada. Não havia necessidade de colocar um país tão grande a sofrer, por nada, o que me faz sentir mais ansiosa. O que está a acontecer deve-se a um líder, o russo, que é completamente doente. As pessoas, no geral, e as crianças em particular, estão a sofrer por causa das ambições de um maluco”, diz.
No entender de Susana Myrovyth, há um grande suporte dos açorianos e dos portugueses, em geral, ao povo ucraniano. “Estive na última semana em Lisboa e nunca vi tantas pessoas na rua para defender os ucranianos e a maior parte eram portugueses. Senti um suporte imenso. Finalmente a Europa e o mundo conseguem ver o que é que é a Ucrânia e o que é que é a Rússia.Vêem que não é o mesmo povo e que não é a mesma mentalidade”. Mas esse não é o pensamento dos russos, pois entendem que têm a mesma matriz ideológica
que os ucranianos… “Sim, isso é verdade. Os russos desde há 300 anos que o acham, mas os ucranianos sempre lutaram durante séculos contra essa ideia. Os ucranianos identificam- se com uma matriz e um sentimento europeus, e não de leste”, garante.
Mercado turístico desfeito
A invasão da Rússia à Ucrânia também traz grandes dificuldades a quem trabalha no sector do Turismo. Susana é guia-turística, freelancer, e sempre trabalhou com esses mercados. A pandemia impediu que houvesse trabalho e quando se arregaça as mangas para começar a trabalhar surge uma guerra. “A maior parte do meu mercado era da Rússia e da Ucrânia. Comparando com os últimos dois anos de pandemia, pensava eu que este ano a situação ia melhorar mas piorou. Foi tudo cancelado, e não podia ser de outra forma porque os aviões russos não podem voar para a Europa. Mas também em termos sentimentais, eu não sei se consigo continuar a trabalhar com os russos. Obviamente, que temos de distinguir o Governo do povo. Grande parte das pessoas que vinha aos Açores não era pró-Putin e percebiam a situação, mas sei que vai ser complicado e, no caso de um dia a situação melhorar, não sei se vou continuar com este mercado, ou não. É complicado, por isso afecta-me emocionalmente e também afecta os negócios. Neste momento não tenho negócio nenhum, nem com a Rússia nem coma Ucrânia. Tenho, sim, alguns operadores com quem trabalho relacionados com o mercado americano”.
Depois da pandemia, que ainda se vive, mesmo se menos intensamente, a guerra veio complicar a vida a quem vive do sector turístico. “Com a invasão russa, tenho tudo cancelado. Como a situação está agora tanto na Ucrânia, pela guerra, e tanto na Rússia pelas sanções impostas pelos EUA e pela União Europeia, penso que os russos vão ficar muito tempo atrás de uma cortina e sem possibilidade de saírem tão cedo, especialmente para viajar”. Também com a queda da moeda russa, não se sabe qual a situação económica: “Não sei se os russos vão ter dinheiro para viajar, principalmente para os Açores” e também porque, por agora, grande parte dos países não aceita a entrada dos russos. Os aviões russos
não podem cruzar os céus europeus”. Isso começa a complicar”, admite Susana Myrovyth. Questionada se é de opinião de que a Ucrânia, que já formalizou o seu pedido de adesão à União Europeia, deva integrar o bloco o mais rapidamente possível, diz que não. “A Ucrânia está a tentar entrar na União Europeia há muitos anos e não conseguiu. Eu tenho a perfeita noção de que a UE não precisa de um país como a Ucrânia, devido ao seu tamanho e à corrupção. O Governo teve oportunidade de fazer reformas para combater a corrupção, ou pelo menos diminuir, para poder entrar na UE, até porque a UE já está um pouco arrependida de ter no seu grupo países como Grécia, Roménia e Bulgária. Agora, a Ucrânia entrar para a UE alimentar mais 40 milhões de pessoas acho que não sentido nenhum, por enquanto. Para a Ucrânia, seria mais dinheiro e continuar com a corrupção. Para haver adesão tem de haver uma Ucrânia com um novo rumo e atitude, mesmo se é certo que a Ucrânia já deu passos muito pequeninos nesta direcção.”. Hoje em dia, a Ucrânia está a ser uma vítima da Rússia, mas a guia-turistica acha que o país ao longo dos anos podia ter feito mais por si para poder estar ao lado da UE. Basta lembrar que “até 2014, a Ucrânia esteve a ser gerida politicamente pela Rússia. Só depois de ter feito a sua Revolução e ter despachado o Governo pró-russo, é que começou a olhar mais para a Europa. Sou de opinião de que antes da Ucrânia entrar na UE tem muito trabalho para fazer e depois fazer uma boa adesão. Eu adorava ver a Ucrânia na UE, mas por agora não, embora reconheça que os ucranianos estão determinados para acabar com a ligação à Rússia, de vez”, admite.
Susana Myrovyth acredita que os ucranianos vão conseguir manter a sua resistência face à invasão russa durante muito tempo, embora esteja com receio das armas nucleares, como todo o mundo está.
“Isso é um estado de nervos, porque Putin é completamente louco e não se sabe qual o próximo passo. Ele dizia que não ia invadir, e de repente está a bombardear e a destruir tudo o que encontra para destruir, conforme os seus interesses”, assume com ansiedade,
(Nélia Câmara – Atlântico Expresso)
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