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ver crescer os filhos são partos constantes
dores difíceis de conter
a ti vi-te crescer na barriga da mãe
desde que foste à austrália sem o saberes
depois quase não nascias por incúria médica
e ali ficaste no porto cinco anos
geneticamente carente de mimos
antes de viveres na minha bragança
e vires desabrochar adolescente nos açores
correste as ilhas e o mundo
sentiste a lava no pico
o barro na faneca de santa maria
a vertigem das fajãs de s. jorge
viste o mar imenso no farol da maia
o rochedo do topo e o ilhéu da vila
mergulhaste nas lamas das furnas
antes de nadares em copacabana
aprendeste a nadar na rousia
fizeste-te às ondas nos moinhos
foste á caldeira no faial e capelinhos
visitaste hong kong e macau
brasília, são paulo e rio de janeiro
viajaste a anhatomirim
ribeirão da ilha, santo antónio de lisboa
lagoa da conceição e palhoça
na grande floripa de santa catarina
correste a galiza paraste em londres
andaste de burro, cavalo e bicileta
deste cabo da cabeça aos profes
da escola da maia e à tua mãe
convertes alegrias em preocupações
canseiras, dores e horrores
privilegiado sem o saberes
viveste os últimos sonhos da geração beat
e dos baby boomers antes da crise
hoje preocupo-me com o futuro
o teu e dos teus contemporâneos
sem sonhos para viverem
sem amanhã para sonharem
sem teorias permissivas do dr spock
embalados no conformismo urbano
sem saber de sputniks nem guerra fria
sem a ordem natural da família nuclear
sem ler os angry young men
sem os verões de amor nem os dias de raiva
sem a geração do flower power
if you go to san francisco
antes de serem yuppies nos anos 80
sem guerras do vietnam ou das colónias
sem disputas entre beatles e stones
sem joan baez nem bob dylan
sem a route 66 do kérouac
agora terás de encontrar a rota na selva
viveres a vida sem rede de segurança
sem sistema universal de saúde
nem serviço público de televisão
cursos sem saída nem amanhã
que não seja emigrar e fugir
amizades feitas no facebook
a virtualidade de sentimentos
a solidão das multidões
e eu carregado de experiência e saber
escrevo desabafos mudos em poesia
impotente sem nada poder fazer
eivado de utopias antigas, democracia
igualdade, fraternidade e liberdade
abafadas neste neoliberalismo selvagem
a minha voz será flor murcha
neste deserto de ricos prepotentes
e às massas sem forças para marchar
só resta gritar antes de perecer
(depois de ler, ver http://www.youtube.com/watch?v=RXYAJF9ZmkY&feature=share)