FRANCISCO MADRUGA NOS 750 ANOS DE MOGADOURO

Francisco Madruga na sua intervenção, fez um apelo à participação das instituições e dos cidadãos, na discussão pública do Plano Estratégico para a Terra de Miranda.
Helena Olga Jesus, Francisco Madruga and 21 others
O vídeo do Município de Mogadouro, com o retrato das diversas atividades, que em muito contribuem para a divulgação do Concelho de Mogadouro – Terras de Trindade Coelho.
Na próxima semana, temos o Red-Burros, depois das Vacas voadoras, retomamos a tradição, interrompida pela pandemia, dos Burros que voam!
Venham daí!
Fica a minha intervenção no painel sobre os 750 anos.
Boa tarde a todos, obrigado pela vossa presença, queria começar por agradecer o convite para participar neste evento.
Pediram-me para falar dos aspetos sociais, económicos e culturais da nossa Terra. Temas muito abrangentes e interessantes que, o reduzido tempo, não permite desenvolver, abrangendo o espaço temporal dos meus 65 anos, através das histórias, das vivências, do regresso e da saudade.
O local e o global num confronto entre o efémero e o património humano, paisagístico e ambiental, eis a questão.
Nos últimos 60 anos, Mogadouro sofreu uma desertificação sempre crescente da sua população. Numa primeira fase, entre os anos 50 e 60, através da saída de mão de obra não qualificada para o Brasil, França e para a Guerra Colonial.
Hoje, as novas gerações, altamente qualificadas, continuam a abandonar Mogadouro rumo ao litoral e ao estrangeiro.
Mesmo e apesar de todos os avanços conseguidos depois do 25 de Abril, corrigindo muitos dos aspetos negativos atrás elencados, muito por ação do Poder Local, o fenómeno manteve-se e acentuou-se.
A procura da sobrevivência, foi a resposta que as populações conseguiram dar, para fazer face à necessidade da melhoria da sua condição de vida. Uns legalizados, outros ilegais, todos foram à procura de uma vida melhor.
Uma terra com altos índices de analfabetismo, baixa escolaridade, sem água canalizada, sem luz, elétrica, sem saneamento básico, com péssimas estradas, os quase inexistentes cuidados de saúde e a elevada mortalidade infantil, caraterizavam a nossa terra. Esta era a nossa realidade, que não convém esquecer.
Se nada for feito de diferente, continuaremos a perder população nas próximas décadas.
Do que foi feito, nós sabemos os resultados obtidos.
Foram encerrados serviços públicos ou desclassificados, foram privatizados setores estratégicos que retiraram quadros qualificados. A sangria dos nossos recursos não foi acompanhada das respetivas compensações às populações e à autarquia.
Foi assim com o hospital, com o tribunal, com os correios e com os diversos serviços nomeadamente, do Ministério da Agricultura, bem como com a Barragem de Bemposta.
Não temos visto vontade do Poder Central em inverter esta situação. A nível local, temos estado mais preocupados por termos menos 2 vereadores e menos verbas do orçamento de estado.
O Poder Central e o Poder Local em conjunto, ou à vez, atribuem subsídios de natalidade, de criação de novos postos de trabalho, creches gratuitas, subsídios agrícolas para arrancarmos vinhas e deixarmos de produzir.
Tenho em casa um documento de autorização de plantação de vinha datado de 29 de dezembro de 1959, que reza assim: ”Por decisão do Ministério da Economia- Secretaria de Estado da Agricultura, foi autorizada a plantação de 1500 bacelos em Campo Redondo, sendo obrigatória a seleção de 30% de uvas brancas e 30% de uvas tintas entre as seguintes castas: côdega, folgosão, verdelho, moscatel galego, terrantez – das brancas; alvarelhão, bastardos, cornifesto, mourisca, tinta amarela, tinta carvalha tinta meranção, tourigas – das tintas.”. Quantas destas castas fazem atualmente parte das vinhas novas?
Resta-me amparar as velhinhas parreiras que continuam a produzir uvas, para todos os anos renovarmos a tradição da poda, do lavrar, do arredar, do sulfatar, da vindima, da produção do vinho, da pisa no lagar, do engarrafamento e de o servir à mesa com os amigos, acompanhando uma refeição ou uma merenda, saboreando longas conversas e ouvindo histórias deliciosas dos mais velhos, que se perdem no tempo. Pois não arranco a vinha, durará o tempo que durar em memória das memórias.
Com tudo isto, qual a atual situação e que resultados?
Mogadouro tem à volta de 10 mil habitantes. Mogadouro terá à volta de 9990 eleitores.
Nunca ninguém parou para pensar neste fenómeno?
Mesmo que consigamos mais alguns habitantes e eleitores para garantirmos o que perdemos, os problemas estruturais manter-se-ão.
É nisto que temos de nos concentrar!
Um dia, enquanto conversávamos sobre um artigo para a Revista do Fórum Terras de Mogadouro, sobre os Presidentes de Câmara de Mogadouro, o futuro Presidente António Guilherme convenceu-me que todos eles tiveram a sua utilidade, todos eles fizeram obra e por isso os devíamos respeitar, mesmo que não concordássemos com as suas ideias.
Mogadouro era um concelho rico nas suas áreas agrícola, cultural, arquitetónico, tradições e profissões.
O cultivo do linho e seus derivados como as mantas, os tapetes. A cestaria de vime, a latoaria. Hoje tudo isto desapareceu.
Não será de voltar a olhar para estas atividades, dando formação e apoio, realizando feiras de fim de semana para exposição e venda como forma de atrair visitantes?
O governo português quer colocar o país a produzir 20% dos cereais que consome. Será que ocupando as terras mais férteis com Parques Fotovoltaicos, a troco de umas máquinas agrícolas e uns painéis, ocupando a terra com floresta de espécies não autóctones, vamos conseguir esse objetivo?
Durante 25 ou 30 anos, vamos destruir a nossa fauna e flora, vamos alterar profundamente o nosso ecossistema e o lençol freático da Meseta Ibérica. O que dirão disto os nossos agricultores, os nossos apicultores, os nossos criadores de gado e que dizem disto os nossos paisagistas?
Passaremos a ver do alto das nossas serras, não o rendilhado dos nossos campos, mas o reflexo da luz nos hectares de painéis espalhados pela nossa terra. No alto da Serra da Castanheira está uma placa afixada na porta da Capela que diz, “Não deixe esmola”. Teremos que colocar uma outra no miradouro e parque de merendas a dizer, “traga óculos de sol, olhar os painéis pode prejudicar a visão”.
Qual o papel do Município? Deixar o mercado funcionar ou defender o que melhor temos para oferecer a quem nos visita?
Citando a Engenheira Tereza Sanches, afirmou ela um dia, ou terá escrito, o seguinte: – “De uma Posta Mogadourense (não mirandesa como os nossos restaurantes teimam em chamar) pode fazer-se um bom hambúrguer, já de um hambúrguer, nunca se fará uma posta mogadourense”.
É esta a nossa opção, queremos atrair turismo de qualidade ou turismo massificado, igual em todo o lado?
Há dias, igualmente, o Engenheiro Afonso Machado, dizia-me que o que lhe dava prazer, era ir para a ladeira, sentar-se numa fraga, olhar o horizonte, sacar uma navalha do bolso, rachar um tomate, deitar-lhe sal e um pingo de azeite e comer assim no pão.
Há dias, afirmavam-me perentoriamente, que não se fazia nada pela recuperação do Monóptero, nem dos castelos de Penas Roias e Mogadouro por culpa da Tutela. Pois fui à Tutela, e obtive a seguinte resposta:
Relativamente aos Castelos de Penas Róias e de Mogadouro são, presentemente, da competência do município, uma vez que a 18 de agosto do ano passado foi assinado o auto de transferência dessas competências do governo central para a Câmara Municipal de Mogadouro.
A Direção Regional continuará a acompanhar qualquer intervenção, mas a iniciativa não é sua.
Quanto ao Museu, a DRCN está envolvida, a acompanhar o programa e o projeto de arquitetura. Daremos toda a atenção a este projeto que nos parece da maior importância.
O Monóptero, embora classificado, é propriedade privada. Em reunião recente com a Câmara de Mogadouro e em conversa com técnicos do Município, percebi existir vontade de proteger aquele elemento arquitetónico e, se isso acontecer, daremos o apoio técnico adequado.
Perante esta resposta questiona-se, no âmbito da construção do Museu o que pretendemos fazer com os nossos castelos para se tornarem apetecíveis a quem nos visita? Vamos fazer acessos dignos? Vamos colocar grades de proteção? Será possível um anfiteatro ao ar livre e instalação de estruturas de apoio. Fica o desafio para um concurso de ideias.
Temos um inventário da localização de fontanários, tanques, cruzeiros, charcas, açudes, represas, pombais e moinhos, pois então façamos a sua recuperação, divulgação e utilização pelas comunidades locais, os períodos de seca severa que vamos atravessar, fruto das alterações climáticas, implicam a utilização de todos os meios na defesa e preservação do bem comum que é a água.
Temos um vasto Património religioso, solares e casas tradicionais. Temos paisagens, gastronomia, enchidos, queijos, vinhos, mel, carne, cogumelos, amêndoa e outros produtos de excelência.
Pois então avancemos com a sua certificação, apoio à transformação, comercialização e divulgação.
Mogadouro pode ser um centro turístico de excelência e sustentabilidade através do seu património cultural, arquitetónico, gastronómico, paisagístico, ambiental, segurança e tranquilidade.
Os turistas nacionais e estrangeiros que nos visitam, preferem a massificação turística, com a reprodução de mais do mesmo, barcos-casas, projetos megalómanos, nunca acabados e ao abandono, ou preferem visitar e instalar-se em casas tradicionais recuperadas, em contacto com as populações, a sua história, as suas tradições, gastronomia e natureza?
Claro que já sabemos que estão projetadas praias fluviais e eco-resortes para usufruirmos nos nossos tempos livres e para proporcionar boa estadia a quem nos visita.
E nós como cidadãos o que queremos?
Arranjarmos projetos para absorvermos fundos comunitários de duvidoso resultado e eficácia ou fazermos propostas para investimentos em projetos que nos diferenciem?
Nada se fará em Mogadouro sem influência política, e muito menos sem a participação ativa e empenho cívico dos cidadãos.
Foi assim com o Parque Desportivo e com o Centro de Saúde. A sua construção, só foi possível pela persistência dos autarcas e a sua influência nos corredores governamentais.
Nós temos tudo em Mogadouro. Piscinas cobertas e descobertas, parque desportivo, casa da cultura, casa das artes e ofícios, casa das associações, biblioteca, parques infantis, parque de feiras, parque ambiental do Juncal, boas estradas municipais e acessos rápidos ao litoral.
O que não temos é gente, nem a viver, nem a usufruir e muito menos projetos de divulgação das nossas mais valias: Festas religiosas, festas pagãs espalhadas por algumas aldeias, a Feira dos Gorazes, o Festival Terra Transmontana, o Red Burros, o Festival do Cogumelo, os gaiteiros, os pauliteiros e a necessário recuperação das atividades de teatro nas nossas aldeias tão em voga no século passado, as Feiras quinzenais, que muito bem poderiam voltar a encher as praças principais da nossa Vila, recuperando assim a tradição antiga.
Se não valorizarmos quem cá vive e produz serão estes os próximos a sair.
Ninguém nos dará nada se nos encontrarmos divididos naquilo que são os objetivos de desenvolvimento da nossa terra.
Teremos de recusar programas debitados em papel que não resolvem crimes arquitetónicos cometidos durante sucessivos governos como o encerramento da linha do Sabor e o abandono das estações da CP.
Mais uma vez, fui à Tutela para tentar sensibilizar quem decide, para a permanente irresponsabilidade deste crime patrimonial.
Devemos reivindicar para o município, a entrega das estações, com o respetivo envelope financeiro. A autarquia e os investidores privados, estarão à altura da sua recuperação e utilização.
Tudo isto só faz sentido, se continuarmos a investir em projetos credíveis, no seu acompanhamento e funcionamento, de modo a garantir a sua viabilidade, o que aliás, não aconteceu com os projetos de florestação.
Para termos uma atratividade diferenciada temos que, dar atenção a:
– Recuperação do Património Arquitetónico Rural. (Visitem o painel fotográfico do gabinete da Arq. Alexandra e deliciem-se com as relíquias).
– Certificação, transformação, comercialização e divulgação dos produtos. É disso que necessitam os nossos produtores e comércio local.
– Restauração e Hotelaria, formação e competitividade de todos os seus agentes, empresários e trabalhadores.
– Recursos Humanos qualificados, através de ações de formação da ACISM.
Claro que isto não resolve a questão essencial. A falta de população. Isso só se conseguirá com a alteração das políticas de abandono do interior do país.
Políticas fiscais agressivas para as pessoas e empresas que pretendam instalar-se, terem sede e a obrigatoriedade de se manter em Mogadouro por um período nunca inferior a 10 anos, cativação de fundos do PRR para alavancar o desenvolvimento da nossa terra.
Deixo-vos um poema de uma conterrânea do outro lado do Sabor:
“As minhas raízes estão em íngremes ladeiras,
em terras de xisto, onde crescem amendoeiras,
carrascos, sobreiros, oliveiras,
e onde o sentir é outro, mais profundo.
Como que em busca da certeza de que existo,
gosto de vaguear pelas ladeiras,
sentindo rumorejar o rio ao fundo.” – Regina Gouveia em – Magnetismo Terrestre.
Ensinemos e divulguemos nas nossas escolas os nossos autores e investigadores, como forma de darmos a conhecer a nossa história. Trindade Coelho, Cónego Belarmino Afonso (que merecida uma homenagem, sempre adiada do seu concelho e da sua freguesia), Cónego António Nogueira Afonso, Rentes de Carvalho, Jacinto Galvão, Antero Neto, Pimenta de Castro, Casimiro Moraes Machado, Tereza Sanches, Manuel Ferreira e tantos outros, não esquecendo as novas gerações com a belíssima prosa poética de Rui Silva e Alexandra Moraes Machado e outros autores.
Senhor Presidente, para terminar, desejar que concretize o programa com que se apresentou aos mogadourenses.
Ouvir os mogadourenses que cá vivem, os da diáspora interna e externa.
Inventariar, catalogar e convencer mogadourenses colocados em lugares chave de decisão em instituições nacionais e internacionais, para a importância da sua ação em defesa de projetos para Mogadouro e esperar de todos eles as contribuições positivas para Mogadouro.
Fazer uma gestão dos recursos e das instituições com base na competência e no mérito, única forma de garantirmos a isenção dos cargos públicos numa altura em que se avança, para a descentralização de competências.
Por último, fazer uma vez mais, um apelo para a criação de uma direção Municipal de Cultura, como forma de a diferenciar pela positiva, área sempre parente pobre, em termos orçamentais.
Obrigado, Mogadouro, a nossa terra merece o nosso contributo.
Todos contamos, todos temos que contar, as novas gerações estão atentas e exigem de todos nós, que façamos diferente, mais e melhor.
Juntemos os vimes e seremos mais fortes.
Não poderia terminar sem um apelo público a todos os presentes.
Vai entrar em discussão pública, o Plano Estratégico da Terra de Miranda, Mogadouro e Vimioso – um contributo da sociedade civil.
É a primeira vez que, um Movimento de cidadãos oferece ao Estado Português, um documento para o desenvolvimento do interior e que exige a esse mesmo Estado, que cobre os impostos devidos pela transação habilidosa da venda das barragens. Cabe às Instituições públicas e privadas, e fundamentalmente aos cidadãos, dar contribuições para a melhoria do documento.
Fica o desafio!
Boa tarde a todos e continuação de um Bom Festival da Terra Transmontana.
FESTIVAL TERRA TRANSMONTANA 2022 | DIA 2 | MELHORES MOMENTOS🎬
Iniciamos o último dia de festival, com alguns momentos do dia de ontem.
Nas atividades de hoje, fazemos especial apelo ao desfile etnográfico, apartir das 17:30 horas.🥁🪕
Contamos com a vossa presença!
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