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mais apropriado que nunca este poema meu com voz do DIOGO OURIQUE
Faz hoje SEIS meses que me deixaste e ainda ouço as tuas palavras no último dia a dizeres”senta-te” pois estava de pé a fazer festas na tua mão e tu tinhas medo que por estar de pé me fosse embora…estive uma hora em pé, como não fizera nos outros dias, premonição?
Por vezes mostravas que querias que eu ficasse mais tempo quando só ia uma hora e pouco do meio-dia em diante, mas era tão doloroso ver-te naquele sofrimento.
E nesses últimos dias quando não telefonavas, ao fim do dia, eu sabia que não estavas bem, e quando ia para o hospital ia sempre a pensar como estarias. Dia após dia, via a degradação da tua saúde, por mais que me quisesse convencer do contrário, mais drogada com morfina que te aliviavam as dores, apesar de dizeres sempre que estavas a fazer tudo o que os enfermeiros e médicos te mandavam e que estavas a comer.
Sei como fazias um sacrifício enorme para tal, para comeres, para tomares banho, para fazeres o que te diziam, com a angústia que se apossava de ti todas as noites.
Lutaste até ao fim, com a tua vontade inabalável de viver e de vencer a crise, era mais uma…uns dias antes pediste para não dar a tua pedaleira pois ias precisar dela e que a Berta tinha deixar de usar lixivia totalmente cá em casa…
Querias convencer-te de que esta infeção pulmonar era como as outras, mas desde o fim de dezembro que o Dr Pavão suspeitava que não, e quando te mandou dormir em casa dia 15.1., foi a última tentativa milagreira dele.
Lutaste sempre, mesmo sem forças e creio que, nalguns momentos nem tu já acreditavas, e era isso que ia ver todos os dias e doía.
25.1.2024 …… Há 4 dias que não se senta no sofá, há 2 que não me consegue telefonar ao fim do dia e calculei que fosse por estar assim….Esta impotência mói. Temo que este tratamento que lhe tira as dores e ansiedade lhe tira qq capacidade de interagir connosco…. Muitas vezes, no passado, ela dizia que as pessoas não faziam a menor ideia do que ela estava a passar, e a verdade é que 99,9% não fazia a mais pequena ideia, pois ela com o seu sorriso e a sua enorme força de viver tudo ultrapassava…por vezes desafiava-me a trocar as mil e uma pequenas maleitas que tenho e hoje eu assim o faria de livre vontade, se pudesse…Ela e os colóquios da lusofonia eram os motores que me faziam viver e lutar, tento ser forte para sobreviver e vê-la, todos os dias, ajuda-me….
Não tenho idade para aprender a viver sem ela…estive de pé, agarrado à mão direita dela e ela com medo de que me estivesse a despedir para ir embora só dizia senta-te, e eu agarrado ali sem saber que seria a última vez…
….JULHO 2024 …
É este teu otimismo que me falta, já fui muito otimista (agora bem pouco em especial depois da tua saída de cena física), e apesar das dores e da doença que tornava os teus dias num inferno (sem que as pessoas se apercebessem do teu sofrimento e do esforço que fazias, desde o sacrifício de te vestires que demorava meia hora ou mais, aos banhos de duche, sentada que chegavam a durar 45 minutos, ao esforço que fazias para te mexeres e saíres comigo no carro quando eu ia aos correios ou à farmácia, pois como sempre dizias, “o meu pai morreu de enfisema, mais depressa, por não sair nem se esforçar” e eu tenho de sair e mexer-me).
Só o esforço titânico que fazias todas as tardes a cortar e desfiar o frango assado para dares de comer às tuas “princesas”, (cadelas mais bem tratadas nunca vi), era inacreditável, pois nem forças tinhas para cortar e desossar o frango assado e ali estavas tu meia hora a perseverar, todos os santos dias. Tanta coisa que fazias e insistias em fazer mesmo a grande custo como era o fazeres a cama de manhã, se eu não me adiantava a ti, para te poupar esse esforço. Tomares os remédios e pequeno-almoço em casa era no mínimo meia hora e com várias pausas. ninguém faz ideia do que era viver com o sofrimento que passavas. Embora eu preferisse ter-te, mesmo doente, aqui a meu lado, seria egoísta da minha parte esperar que continuasses a sofrer o que sofrias em silêncio e sem queixas. Onde quer que a tua alma esteja já o teu corpo pequeno e frágil não sofre e a tua mente andará, decerto a divagar e apensar em próximas antologias!