Views: 0
SR. PRESIDENTE! POR FAVOR, ISOLAMENTO JÁ!
Nestes tempos de assombramento pelo “coronavírus” já vimos de tudo e à boa maneira portuguesa! Muitos achavam que o vírus não chegava cá, outros desvalorizaram a sua gravidade comparando-a com a de outro tipo de doenças e até mesmo com a fome no mundo. Neste negacionismo exacerbado, compara-se o incomparável e já se gracejou muito, de forma inconsciente, sobre esta situação perigosa e difícil de controlar, que tem levado à morte, e que inevitavelmente irá mudar o mundo.
O grande poder do coronavírus não se verifica apenas na destruição que provoca ao organismo. O vírus tem uma período de incubação longo e uma capacidade enorme de propagação, como por exemplo, através de pessoas que não apresentem qualquer tipo de sintomas. O vírus manifesta-se entre 1 a 14 dias, mas sobretudo entre 3 e 7 dias. Os principais sintomas são a tosse seca e febre mas poderão ser também a congestão e corrimento nasal, diarreia e dor de garganta. A taxa de mortalidade varia entre 0,2%, nas pessoas mais novas, e 15% nos mais idosos e doentes crónicos infetados.
Estima-se que 80% da população mundial seja atingida por este surto COVID-19. A população mais vulnerável são os idosos e doentes crónicos. Cerca de 80% das mortes registadas em Itália referem-se a pessoas com mais de 70 anos. Todos nós podemos ser afetados pelo “coronavírus” e a única forma de nos protegermos é através do isolamento social e repetição de manobras de higiene.
Os relatos que nos chegam de quem está ao serviço da saúde são claros e servem para conferir a validade necessária a esta grave epidemia do COVID-19! Foram publicados diversos testemunhos de médicos chineses, italianos, espanhóis e portugueses que demonstram as dificuldades que os serviços e profissionais de saúde enfrentam, sobretudo no sentido de dar resposta à quantidade enorme de casos de infeção que têm surgido. Em Itália, chegam ao ponto de ter de escolher para tratar aqueles que apresentam mais hipóteses de sobrevivência, tudo isto porque o país não reagiu a tempo nem o seu sistema de saúde estava preparado para lidar com uma epidemia com esta força de propagação e impacto na saúde das pessoas.
Em Portugal, como sempre, espera-se até à última para se agir em defesa do povo. Após a identificação do problema, o nosso país teve tempo suficiente para se preparar, coisa que não fez com eficácia. As fronteiras continuam abertas apesar de todos os apelos da população e exemplos que chegam de fora. Os voos e comboios continuam a circular. A possibilidade dos portugueses serem infetados ou alastrarem o vírus é tão real que já o “levaram” novamente até Macau.
PONTO DE SITUAÇÃO
Felicito o Governo dos Açores pelas decisões tomadas em conjunto com a Autoridade de Saúde e enalteço a coragem e determinação nestes tempos difíceis, provavelmente os mais difíceis na história do Açores no que se refere à proteção da saúde pública. Lamento que, neste contexto, o isolamento dos Açores ainda não tenha sido conquistado, condeno o bloqueio à proteção dos açorianos protagonizado pelo Governo Central, contrariando a vontade já manifestada pelo nosso povo e seu Presidente Vasco Cordeiro.
Apesar do Governo dos Açores ter decretado o estado de alerta e pouco tempo depois o estado de contingência, ainda não foi possível efetuar o bloqueio eficaz à entrada de pessoas na Região. Trata-se de uma medida fundamental para conter a propagação do vírus. Os residentes em trânsito deveriam ter sido chamados a regressar dentro de um prazo determinado e as quarentenas exigidas aos viajantes deveriam ser realizadas em local isolado com acompanhamento e proteção total.
É inútil encerrar escolas, bares, piscinas, ginásios, parar romeiros, e proibir cruzeiros, jogos, rally, festivais, missas e festas religiosas, etc… submeter a população a todo este sacrifício quando ainda estamos a permitir a entrada de pessoas na Região. Não adianta solicitar o preenchimento de formulários e enviar os passageiros para quarentena nas suas residências, junto das suas famílias, quando qualquer pessoa que apresente ou não sintomas poderá estar a transportar o coronavírus e contagiar todos aqueles com quem se cruza durante o seu percurso (avião, aeroporto, transporte, residência, etc…). Qualquer aeroporto de onde partem as pessoas que chegam aos Açores é considerado zona de risco. Os que se atrevem a viajar poderão contrair o vírus e infectar todos aqueles com quem se cruzam durante o percurso e no destino final. As medidas aplicadas à chegada são insuficientes, no caso dos Açores e inexistentes no caso do continente, do ponto de vista da contenção do vírus. O esforço que será feito a partir de 16 de Março será em vão se não for acompanhado por medidas drásticas de isolamento!
APELO
A única forma de protegermos os açorianos é agindo no sentido de conter a propagação deste vírus. Como diz Paul Graham: “quando se lida com crescimento exponencial, a hora de agir é quando parece cedo”. Se o vírus se propagar nas nossas ilhas teremos imensas dificuldades em superá-lo.
Os serviços de saúde não terão capacidade para combater de forma eficaz este flagelo se não reduzirmos a propagação do vírus. Os nossos profissionais de saúde têm de acompanhar diariamente centenas de pessoas que carecem de assistência médica, e terão de ser poupados para poderem lidar com o que ainda está para vir. Neste momento, todos os profissionais de saúde e pessoas que trabalham nos hospitais e centros de saúde carecem de máxima proteção pois correm o enorme risco de vir a contrair o vírus e contagiar utentes e familiares… Ainda vamos no começo desta “tempestade” e os profissionais de saúde são a única salvaguarda para os quadros clínicos mais complexos.
É urgente travar por completo a entrada de pessoas na Região, isolar as diferentes ilhas e os vários concelhos. É urgente avançar com uma quarentena geral obrigatória, sob o controle das forças de segurança. Temos de encerrar tudo, com exceção dos serviços fundamentais para a subsistência da população. Os açorianos têm de ficar em casa, cumprir as regras de higiene e respeitar a quarentena com todo o rigor. Deste modo, não só reduzimos o contágio mas também a probabilidade de ocorrência de acidentes ou outro tipo de eventos que requerem a intervenção dos profissionais de saúde, bombeiros ou outro tipo de recursos.
A nossa população está muito longe de compreender a gravidade desta epidemia, a iliteracia em saúde e higiene manifestada é estrondosa, e nem todos açorianos terão tempo ou a possibilidade de se protegerem convenientemente. Muitos desconhecem o que significa período de incubação, bem como, o modo de propagação do vírus, que poderá ocorrer sem a manifestação de sintomas. Basta andar pelas ruas, conversar com o povo para perceber que o nível de inconsciência é assustador.
Proteger os açorianos é tirar partido do nosso isolamento enquanto ilhéus. Se o nosso presidente Vasco Cordeiro não tiver autoridade para impedir a entrada de passageiros nos nossos aeroportos, se António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa não estiverem sintonizados com esta necessidade, o povo terá de agir!
Sr. Presidente do Governo dos Açores, esta situação irá agravar-se nas próximas semanas e por esse motivo peço-lhe que não tenha receio de avançar com medidas drásticas para conter a propagação do coronavírus. É tempo de encarar a realidade como fez e bem, é tempo de não ceder a interesses económicos pois nada é mais valioso que a vida e todos nós estamos comprometidos e teremos de cooperar. Estou certo que todos os açorianos estão consigo para o que der e vier! Quanto mais atrasarmos a implementação destas medidas, mais graves serão as consequências a todos os níveis. É tempo de continuar a agir para proteger o seu e nosso povo, com a habilidade que tem demonstrado, com a coragem e sabedoria que sempre nos transmitiu! Esta é uma luta de todos nós por todos nós. Vamos Sr. Presidente! Bloqueio total de entradas na Região e quarentena geral, garantindo os serviços mínimos e o abastecimento necessário com toda a segurança. Vamos tirar partido da nosso isolamento, da nossa condição insular.
Filipe Tavares