FERNANDO DE VIETER NOBRE · CARTA ABERTA AOS PORTUGUESES E ESTRITAMENTE PESSOAL,

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CARTA ABERTA AOS PORTUGUESES E ESTRITAMENTE PESSOAL,

Há dias que penso escrever, mas a gestão de crise e a coordenação da muito diversificada estrutura da AMI dentro e fora de Portugal (ex: uma equipa da AMI de 6 pessoas está retida na Guiné-Bissau) não me tem dado tréguas, sobre o que o Mundo está a viver e sobretudo sobre o que está a acontecer em Portugal na área da Saúde com a tragédia humana (das consequências econômicas, financeiras, laborais, sociais, psicológicas…falarão outros mais credenciados, espero, embora obviamente estou muito atento e preocupado!) provocada pelo coronavirus chamado de Covid-19 e também já apelidado de SARS-2.

Como médico activo no terreno humanitário há mais de 40 anos, com 68 anos feitos no ano passado o que faz de mim um velho pertencendo a um grupo de risco, Professor Catedrático convidado da FMUL (Regente da Disciplina de Medicina Humanitária), Fundador e Presidente da Fundação AMI, antigo Administrador dos MSF na Bélgica (onde me formei em Medicina, tirei as duas Especialidades, Cirurgia Geral e Urologia na ULB e onde fui docente universitário), com várias experiências de combate a epidemias em campos de refugiados ou deslocados internos (meningite Congo, cólera Congo/Ruanda/Guiné-Bissau/Moçambique e tendo estado muito perto do vírus do Ebola várias vezes (Congo), lanço aqui o meu GRITO porque, penso, tenho os conhecimentos e a experiência para falar deste assunto!

Se a situação já é má, vai ficar muito pior e vai durar até ao verão…!
Vai ser um período de “suor, sangue e lágrimas “ como diria o Estadista W. Churchill!

Portugal deverá atingir 5 a 10.000 infectados testados, os reais serão talvez 10x mais embora muitos serão assimptomáticos ou muito ligeiramente afectados mas podendo ser transmissores do vírus, e quanto ao número de mortos talvez uns 200, ou mais…,se tudo correr menos mal.

Estamos em guerra e em guerras se necessário aplica-se o Estado de Sítio ou pelo menos o Estado de Emergência a sério que TODOS TÈM DE RESPEITAR! Não está a ser o caso.

Sobre esta matéria todos opinam, todos são Médicos…, e o Conselho Nacional de Saúde é uma anedota: dos 30 membros pouquíssimos sabem do que estão a falar, uma ínfima minoria são médicos, e mesmo esses, exceptuando o Bastonário da Ordem dos Médicos e pouco mais, era melhor estarem calados… inclusive o seu presidente, Colega que conheço.

O Estado a que se chegou é devido à incúria, desleixo, falta de prevenção, falta de preparação/conhecimento/Determinação/visão/Coragem…tendo em conta que fomos dos últimos países na Europa a sermos atingidos!

De 2010 a 2018 saíram do País uns 17.000 profissionais de Saúde (médicos e enfermeiros), ninguém se importou, e continuamos “cantando e rindo”, e não se investiu na área da Saúde (recursos humanos, valorizados sff, e materiais) como era exigido porque com certeza pensávamos que possuíamos a imunidade e a impunidade contra todas as maleitas, incluindo as epidemias (a corrupção também é uma), embora a História sempre nos demonstrou o contrário…e quando a Itália já estava em brasa.

Quando se deu o primeiro caso em Portugal dia 2 de Março eu estava na Costa do Marfim e 10 dias antes tinha estado no Zimbábue. Nesses países os passageiros todos que chegavam, antes de entrar nos edifícios dos aeroportos, tinham de esfregar as mãos com álcool e era-lhes tirada a temperatura como me tinham feito na China aquando do SARS-1. No aeroporto de Lisboa onde aterrei dia 7 de Março, NADA! A Itália, França e Espanha já ardiam…e no meu avião só havia quase passageiros em trânsito para França, Itália, Espanha…Como já tinha constatado antes quando tinha regressado do Zimbábue (como inclusive em Londres/aeroporto de Heathrow por onde transitei). NADA!

Em guerra o comandante supremo fica ao leme e as ordens, severas, são para ser cumpridas à letra sem exceção! Não é isso que acontece entre nós!

Sem uma higiene rigorosa das mãos, uma etiqueta respiratória sem falhas e um rastreio (testes!) de massa, um isolamento total e controlado e uma vigilância médica rigorosa dos positivos assimptomáticos ou ligeiros (~85% dos casos) e das classes de risco (mais de 60/65 anos, pessoas padecendo de hipertensão, diabetes, doenças pulmonares, cancros, doenças cardiovasculares, (os mortos têm uma idade média de 79 anos e padecem em geral de 1 a 3 dessas patologias) e um tratamento hospitalar, em Cuidados Intensivos precocemente e atempado quando clinicamente indicado, de todos, repito TODOS (já sou velho e não pode acontecer como em Itália, muito em breve em Espanha e na Inglaterra!!!) a menos que se esteja à espera da imunização espontânea de massa (60% mínimo da população infectada e sobrevivente) ou se tenha em mente uma Eugenia dos velhos…como eu!
Obviamente o pessoal de Saúde tem de ter os meios eficazes para se defender! Senão fica-se sem soldados no campo da batalha e só com generais, embora necessários, não vencemos esta guerra!

Estamos em GUERRA!!!

VAMOS TODOS À LUTA E SEM QUARTEL!

Muito mais teria a dizer mas fico-me por aqui!!!

Coragem, Civismo e abraços a todos!

Na AMI estamos a fazer o que nos compete!

E eu também, espero!

Isto É UM GRITO PELA HUMANIDADE, POR PORTUGAL!!!

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