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O QUE ESTAVAM OS EUA A FAZER NO AFEGANISTÃO? / OPINIÃO
A Mãe de todas as Bombas e a mulher afegã
Lembro-me perfeitamente daquele 17 de Dezembro de 2001 em que Bush anunciou a vitória militar sobre os Talibãs. Estava nessa noite em Paris a jantar com três amigos diplomatas de um país muçulmano do Sudeste-Asiático e de um deles ouvi a seguinte observação: “esta guerra ainda nem começou e não vai acabar com a vitória dos americanos”.
Muitos anos depois, em Abril de 2017, já durante a presidência Trump, num gesto aparentemente sem sentido, mas muito marcado pela mentalidade americana do entusiasmo juvenil pelas explosões, a força aérea dos EUA lançou a célebre Mãe de todas as Bombas sobre uma aldeia perdida ocupada pelo agora famoso Estado Islâmico de Khorasan. Aquele inútil fogo de artifício foi anunciado como expressão da potência americana e da impossibilidade de esta alguma vez ser confrontada com uma derrota.
Entre Dezembro de 2017 e Maio passado, os EUA gastaram diariamente no Afeganistão o equivalente a todas as necessidades anuais em educação, saúde e alimentação de todos os afegãos com menos de 15 anos de idade.
No domingo passado, fomos confrontados com a derrota americana. Argumentarão alguns que não foi uma derrota. Evidentemente que foi, pois o que define uma derrota é o abandono do campo de batalha sem que o objectivo apontado seja atingido, mas também é ficar à margem dos acontecimentos e perder todo o poder negocial. Se essa guerra tivesse terminado, como nos disseram, em 17 de Dezembro de 2001, ou com o anúncio da morte de Osama bin Laden, em 2011, a pergunta que se coloca é o que estavam lá a fazer.
Se nos responderem que estavam ali para implantar um regime republicano e democrático, importa que não lhes respondamos nem com factos, nem com convicções, mas com argumentos jurídicos. E quais são?
Ora bem, surpreendido ficamos com os nossos mestres de RI, mais os analistas de política internacional por nenhum deles ter até ao momento feito a mais leve alusão à Constituição afegã de 2004, o tal texto que seria a ossatura do regime democrático e republicano que agora morreu sem disparar um tiro. É evidente que os nossos preclaros cientistas políticos e os peritos nativos em RI jamais leram tal Constituição.
Como grande parte do bruaá que se produz envolve a questão religiosa e o estatuto e condição da mulher afegã, bom seria lembrar que a Constituição de 2004 foi redigida com o propósito manifesto do acatamento pleno da cultura religiosa do Islão e que para a produção legislativa essa Constituição previu um corpo especializado para análise de todas as leis, por forma a que estas fossem conformes com a religião do Estado da República Islâmica do Afeganistão. Assim, a religião muçulmana era a base da Constituição até agora em vigor. De lado, pois, sem apelo, quaisquer pretensões de separação entre a ordem política e a esfera do religioso.
No que à mulher respeita nessa Constituição, o artigo 5º consagrava a igualdade entre mulheres e homens, mas que na legislação produzida ao longo dos últimos 16 anos, o marido tem o poder de negar alimentos à sua mulher se esta recusar relações sexuais, que uma mulher só pode abrir uma conta bancária com a autorização do pai, do marido ou de um irmão, que uma mulher, caso tenha irmãos masculinos, não tem qualquer direito a receber a herança pela morte do progenitor, e assim por diante. A legislação é extensa e derroga todas as conquistas obtidas no passado, quer na Constituição de 1939, quer durante o regime comunista, entre 1978 e 1992.
A questão final é a de sempre. Por que raio estavam lá os americanos? Ora, para negócios de privados e para experimentar bombas sobre populações pobres e indefesas.
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- Augusto AlmeidaA perderem tempo e dinheiro .. para tentarem capturar um país estratégico para os U.S.A. ..Mas acima de tudo para mostrarem uma supremacia que já não existe >18 anos.Em suma, estiveram a semear o caos, e a alimentarem uma hipótese de vida Ocidental .. de forma utópica e provisória, .. resultados à vista.“O presidente dos U.S A. (Mr. Biden) é um verdadeiro cargueiro dos anos 80 .. um Tollan.É preciso saber e entender o que é ser estadista, para se governar um país como os Estados Unidos da América do Norte.Em circunstância alguma um líder deve de “ladrar”, mas sim morder no momento exacto.Comunicar publicamente para que o mundo o saiba, que se irá vingar pelo atentado (explosão) junto ao aeroporto de Cabul, (Afeganistão) .. é de uma enorme irresponsabilidade.Irá criar/fomentar novos atentados, estes para demonstrarem que não o temem, nem a ele (Biden) nem aos U.S.A. vs. NATO.Gente pequena a quererem “liderar” grandes países.Raispele, a velhice neste caso em particular é um perigo!Ele não tem Amigos nem família naquele país de guerras constantes, se tivesse .. estaria a mata-los, tal como está a matar milhares à conta da sua bocarra esquerosa.”
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