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6 de Setembro de 1904 – 5 de Março de 1984POVO
em “Miserere”
Povo que lavas no rio,
que vais às feiras e à tenda,
que talhas com teu machado
as tábuas do meu caixão,
pode haver quem te defenda,
quem turve o teu ar sadio,
quem compre o teu chão sagrado,
mas a tua vida, não!
Meu cravo branco na orelha!
Minha camélia vermelha!
Meu verde manjericão!
Ó natureza vadia!
Vejo uma fotografia…
Mas a tua vida, não!
Fui ter à mesa redonda,
bebendo em malga que esconda
o beijo, de mão em mão…
Água pura, fruto agreste,
fora o vinho que me deste,
mas a tua vida, não!
Procissões de praia e monte,
areais, píncaros, passos
atrás dos quais os meus vão!
Que é dos cântaros da fonte?
Guardo o jeito desses braços…
Mas a tua vida, não!
Aromas de urze e de lama!
Dormi com eles na cama…
Tive a mesma condição.
Bruxas e lobas, estrelas!
Tive o dom de conhecê-las…
Mas a tua vida, não!
Subi às frias montanhas,
pelas veredas estranhas
onde os meus olhos estão.
Rasguei certo corpo ao meio…
Vi certa curva em teu seio…
Mas a tua vida, não!
Só tu! Só tu és verdade!
quando o remorso me invade
e me leva à confissão…
Povo! Povo! Eu te pertenço.
deste-me alturas de incenso,
mas a tua vida, não!
Povo que lavas no rio,
que vais às feiras e à tenda,
que talhas com teu machado,
as tábuas do meu caixão,
pode haver quem te defenda,
quem turve o teu ar sadio,
quem compre o teu chão sagrado,
mas a tua vida, não!